O espelho quebrado da branquidade: aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante

Adevanir Aparecida Pinheiro 71 Quando voltamos para as teorias das relações raciais discutidas por Florestan Fernandes, percebemos que suas preocupações vão além das leis propriamente ditas e escritas. O que está velado no meio dessas relações exprime algo muito mais complexo e escondido no sujeito branco que é o predominante e dominante nas relações sociais e raciais. A nosso ver, não se consegue perceber até onde este modo de ser do branco está enraizado e internalizado na sociedade brasileira e na sua conduta e posturas pessoal e interpessoal. Retomaremos esta questão de forma mais aprofundada no próximo capítulo. O que deve ser destacado, ainda, é a postura teórica e científica de Florestan Fernandes no tratamento dos sujeitos e das culturas apresentadas demonstrando, que com profunda ousadia, ele enfrentou os ordenamentos e parâmetros sociológicos tradicionais, objetivando se confrontar intelectualmente de forma ética e moral, considerando, sobretudo, a individualidade e alteridade dos sujeitos envolvidos nas ações de suas análises. Como argumenta Lahuerta em seu artigo publicado no Caderno AEL: No contexto de radicalização política e ideológica do final da década de 1950, a sociologia produzida no âmbito da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de São Paulo (USP), sob o comando de Florestan Fernandes, ainda que preocupada com o estabelecimento de uma “tecnologia do saber” e avessa à intervenção política direta, acaba realizando uma guinada em sua trajetória, ao estabelecer uma aproximação com o marxismo, que contribui para deslocar o conjunto da cultura ilustrada paulistana para a esquerda, aproximando-a, ainda que com muitas críticas, de preocupações

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