O espelho quebrado da branquidade: aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante

70 O espelho quebrado da branquidade muito bem enfatiza Sátyro (2003, p. 26),21 quando argumenta que “as transformações sociais e políticas são lentas, não se baseiam em acentuadas e súbitas rupturas sociais, culturais, econômicas e institucionais. O novo surge sempre como um desdobramento do velho”. Com isso, os conhecimentos centrados nas culturas excluídas como a dos afrodescendentes, e como dos demais saberes populares, ficaram a mercê da ciência puramente academicista. Contemplando a existência de um mito de “democracia racial”, essas duas culturas ficaram destinadas a uma ciência baseada nas velhas e tradicionais matrizes que sempre olharam para essas culturas e as analisaram como objeto de seus próprios objetos. Diante de toda complexidade das quais nós viemos discorrendo, vivenciando e observando em meio à “real realidade”, é um fato que nos remete às preocupações deixadas por Florestan Fernandes em muitas de suas obras, ao se concentrar nas formas de relações étnico-raciais absolutizadas pela população branca sob as populações negras e indígenas na sociedade brasileira. A forma absoluta de ser do branco como único e o centro das atenções no mundo superior sempre deslocaram e descaracterizaram a visão sobre o diferente, como sendo o seu subordinado sem poder se encontrar e se localizar dentro desta realidade. Pode-se observar que essa realidade, ainda hoje, provoca profundos danos na sua própria relação internalizada. Em outras palavras, o sujeito afrodescendente ainda não possui uma identidade histórica que o sustente na sua cidadania enquanto sujeito; parece que muitos ainda agem sob o mando dos brancos, ou seja, aquilo que o branco determina que é o certo é o que prevalece, mesmo ele sentindo a situação de exclusão interiorizada, ainda assim se conforma diante da subordinação imposta. 21 SÁTYRO, D. As casas urbanas e a herança rural: um olhar geográfico sobre as habitações da cidade de João Pessoa-PB (Brasil). Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2003, vol. VII, núm. 146 (056). Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-146(056).htm>. Scripta Nova, Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Universidad de Barcelona. Vol. VII, núm. 146 (056), 1 de agosto de 2003.

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