O espelho quebrado da branquidade: aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante

30 O espelho quebrado da branquidade diversidade sanguínea. Para Gobineau (apud ARENDT, 1989, p. 203), “a queda das civilizações se deve à degenerescência das raças. E esta, ao conduzir ao declínio, é causada pela mistura de sangue”. Com essa afirmação o autor chegou a uma classificação absurda e negativa entre as raças. Este conceito parece ter sido o principal ponto de partida nos termos dessas teorias, objetivando marcar o branco como diferente de todas as demais raças humanas e que seria esse o sinal de garantia de raça domesticada para dominar as demais raças, sobretudo em nível mundial. Sílvio Romero4 (1851-1914) é apresentado como um seguidor das ideias gobineauanas. Ele demonstra, por exemplo, ser pouco otimista em relação ao processo de miscigenação da população brasileira; carrega em si uma ideologia que o consagra como discípulo de Gobineau. Como registra Botelho5: Além de ideologia discriminatória baseada no dogma da supremacia das supostas “raças arianas”, o gradual “embranquecimento” da população brasileira foi pensado por seus artífices como um mecanismo normativo capaz de assegurar a coesão ou unidade étnica do país. Como acreditava Sílvio Romero, um dos seus principais entusiastas, a redenção étnica do país se daria da seguinte forma: “O tipo branco irá tomando a preponderância, até mostrar-se puro e belo como no velho 4 ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. 5 volumes. Tomo Primeiro: Contribuições e estudos gerais para o exato conhecimento da literatura brasileira. 3. ed. aum. Rio de Janeiro: José Olympio, 1943. 1ª. edição de 1888. CUNHA, Euclides. Os Sertões. In: SANTIAGO, Silviano. Intérpretes do Brasil. 3 volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. Vol. 1, p. 169-606. (Disponível em outras editoras também) (Obra de 1902.) 5 BOTELHO, André. Cientificismo à brasileira: notas sobre a questão racial no pensamento social. Botelho é doutor em Ciências Sociais (Unicamp) e membro do Centro de Estudos Brasileiros da mesma universidade. Artigo publicado em 2007. Disponível em www.achegas.net.

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