O espelho quebrado da branquidade: aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante

26 O espelho quebrado da branquidade dade brasileira durante quatro séculos esteve sempre vivamente presente, como também esteve presente o modo antiético e politicamente irresponsável como se deu o processo de abolição. Arrancados de seus territórios, os africanos escravizados foram arrastados para diversos países do mundo e principalmente para o solo brasileiro, onde foram maltratados e açoitados pelos seus senhores, ao longo de séculos, para no fim serem também levados a serem educados forçadamente, sendo-lhes incutidos valores e padrões brancos. Libertos, foram soltos ao destino incerto, jogados à margem da sociedade, das escolas e das academias. Sem nenhum tipo de instrução e autodefesa, os negros escravizados não tinham margem para ações pessoais ou coletivas e, muito menos, escolha para tal. Também os afrodescendentes, mesmo quando “libertos”, viviam em sistemas de tratamento e regimes autoritários, sofrendo, como agravante, uma educação arbitrária e exclusiva do branco. Além de viverem sob a poder do patriarcado. O autoritarismo senhorial da época não permitiu aos afrodescendentes participarem, por exemplo, nem mesmo do direito de voto. Conforme Araújo e Silva, Sem “instrução nem senso de responsabilidade, pois esta só existe quando é possível escolha e ação”, os negros, mesmo na condição de libertos, estavam subjugados a outras restrições, pois “não podiam ser eleitores [...] e era-lhes interditado também exercer qualquer cargo de eleição popular, para a qual a condição essencial era ser eleitor” (COSTA, 1989 apud ARAÚJO e SILVA, 2005, p. 65). Com a derrocada e fragilização do regime escravista, os senhores foram perdendo vigor de ostentação e viram-se obrigados a tecer com relação à população afrodescendente outros tipos de imposições sociais, sobretudo, por meio da educação. A partir daí, a educação passou a não ser mais de responsabilidade dos senhores, mas o próprio afrodescendente tinha que assumir e responder por esta responsabilidade, sem o menor apoio ou cuidado político, num total desamparo e desestímulo. Deste modo, sem serem reconhecidos como sujeitos, os afrodescen-

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