O espelho quebrado da branquidade: aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante

Adevanir Aparecida Pinheiro 25 ... Capítulo 1 Contextualizando o debate: aspectos importantes de uma temática complexa Em nosso país, discute-se muito sobre comportamentos éticos e sobre violência. Mas há certos tipos de violência, que são as violências simbólicas das quais quase nada ou pouco é falado, que agem de forma invisível provocando mortes históricas, culturais e identitárias. São violências que não chegam a ser percebidas ou vistas por estarem situadas no nível simbólico, como é o caso das representações e práticas raciais no cotidiano. São cometidas verdadeiras barbáries éticas sem haver consequência nenhuma com relação aos autores destas barbáries. Quando se fala em identidade nacional, normalmente é puxado o registro de três origens étnicas: os povos autóctones indígenas, o segmento negro ou afrodescendente e o segmento branco ou eurodescendente. Sem desconsiderar a importância do segmento indígena, que tem a sua complexidade própria, a discussão teórica que é desenvolvida neste livro, se reduz aos dois últimos segmentos, uma vez que ela fez parte do embasamento teórico para a pesquisa da tese doutoral com este foco. Colocando-nos, assim, na estrita relação entre brancos e negros, fazemos referência ao sujeito afrodescendente que, como vítima da internalização inconsciente e forçada de valores brancos, se vê obrigado a adotar para si modelos incompatíveis com seu próprio ser e, mesmo, de seu corpo, o fetiche do branco e da brancura. A nossa interrogação final, no entanto, se voltará para o lado gerador deste fetiche, ou seja, a histórica dominação branca e suas patologias que acabam por engessar a inclusão e a participação da população negra na sociedade e nas academias brasileiras. Ao longo das buscas bibliográficas de todo processo de pesquisa, a história cruel de escravidão que se enraizou na socie-

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