A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

97 Raízes escravas da indústria no Brasil mesmo os seus desdobramentos políticos (Marquese, 2004; Salles, 2008; Parron, 2011). O fato é que a renovação historiográfica provocada a partir do conceito de segunda escravidão teve sua origem em diversos estudos de historiadores brasileiros, norte-americanos e antilhanos das décadas anteriores, que problematizaram questões incorporadas aos estudos de Dale Tomich e os demais. Pretendemos demonstrar até que ponto a historiografia brasileira contribuiu com suas análises e dados para algumas das principais teses defendidas pela segunda escravidão, e de que forma estas discussões podem permitir o avanço nos estudos sobre a economia brasileira ao longo do século XIX. As economias mercantis escravistas regionais e a segunda escravidão Desde o início do século XIX, juntamente com o processo de Independência e a construção do Estado brasileiro, começaram as discussões sobre a escravidão, o fim do tráfico e a necessidade de modificar a matrizda mão de obra no país. Se, de um lado, a manutenção do trabalho cativo era uma das poucas moedas coloniais, na feliz expressão de Ilmar Mattos, capaz de unir os diversos setores dominantes das fragmentadas colônias portuguesas na América, por outro, a crescente pressão inglesa, em conjunto com os ideais iluministas, como os denaçãoepovo , questionavam a perenidade do sistema escravista (Mattos, 1994). Exemplar, nesse sentido, foi a postura de diversos personagens da nossa Independência, que, em tese, eram favoráveis ao fim do tráfico de escravos e ao encaminhamento da Questão Servil . Porém, na prática, renunciaram a essas intenções na medida em que a manutenção da escravidão se colocou como uma das principais exigências dos setores dominantes das diversas capitanias, depois províncias. Tal foi a posição de José Bonifácio de Andrada, ou ainda do político e nobre mineiro João Severiano Maciel da Costa (Visconde com Grandeza e Marquês de Queluz), somente para ficarmos com dois personagensmais conhecidos e já trabalhados por diversos autores, entre eles Emília Viotti (1998), Paula Beiguelman (1967) e Alfredo Bosi (1992), que reforçam a ideia de um pacto pela escravidão, e toda a articulação política daí resultante. 3 3 Sobre João Severiano Maciel da Costa, ver a sua própria publicação, em Portugal, em 1821: Memórias sobre a necessidade de abolir a introdução dos escravos africanos no Brasil, sobre o modo e as condições com que esta abolição se deve fazer e sobre os meios de remediar a falta de braços que ela

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz