A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

95 Raízes escravas da indústria no Brasil Dentro desse viés, uma segunda visão entende como destaques desse período o crescimento e a expansão das atividades. Tem suas origens em um clássicomais antigo ainda: a obraHistória Econômica do Brasil , de Roberto Simonsen, de 1937. Esse entendimento também pode ser encontrado no conceito de renascimento agrícola , de Caio Prado Júnior, publicado em seu Formação econômica do Brasil contempor neo , além dos estudos feitos, a partir de 1972, de Jobson Arruda – todos apoiados em dados empíricos que demonstram o espetacular crescimento e diversificação das exportações coloniais em consonância com o aumento da importação de escravos. Tal crescimento econômico estaria ligado predominantemente às atividades de um mercado externo que, inclusive, se articulava autonomamente com o continente africano na aquisição da mão de obra escrava. Embora esses estudos exerçam grande ressonância nas pesquisas contemporâneas sobre o tema, certa indefinição conceitual dificulta uma formulação clara, permitindo diversas interpretações, como o capitalismo comercial e, ainda, a ideia de antigo e novo sistema colonial (Prado Júnior, 1948; Lapa, 1973, 1982; Arruda, 1980, 2008; Simonsen, 1937). A esses estudos, que mostram uma conjuntura de crescimento da economia do Brasil nesse período, agregam-se outros que ressaltaram a importância de uma maior autonomia do mercado interno frente às demandas externas. Dentre esses, está o artigo de Amílcar Martins Filho e Roberto Borges Martins, publicado em 1983, sobre o título de Slavery in a non-export economy: nineteenth-century Minas Gerais revisited (Martins Filho; Martins, 1983, p. 537-590; Martins, 2002). A ideia central dos autores questionava a suposta decadência de Minas Gerais a partir da crise e declínio da mineração aurífera. Embora outros estudos sobre as dinâmicas internas já existissem há tempos (como os de José Amaral Lapa), a questão central proposta pelos irmãos Martins, e que será ampliada pelos autores do arcaísmo como projeto e parte significativa da historiografia mineira, será a ideia do predomínio de atividades de subsistência e abastecimento sobre os mercados externos como importante vetor explicativo do crescimento da economia nacional ao longo do XIX. Por último, uma terceira visão começa a ser construída , derivada dos diversos estudos de que a segunda escravidão tem se utilizado. Parte da compreensão da economia brasileira ao longo do século XIX, marcada por uma maior complementaridade e integração ao mercado mundial via escravidão. Essa discussão nos interessa mais amiúde como objetivo do presente texto, e passamos a detalhá-la um pouco mais.

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