A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

76 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica O primeiro fornece uma boa descrição da gênese do conceito e das perspectivas teóricas e metodológicas que embasaram Dale Tomich quando de sua formulação original, enquanto o segundo nos adverte com acuidade que, para compreender as trajetórias históricas particulares dos espaços da segunda escravidão, devemos necessariamente atentar para as conformações sociais e políticas específicas dos Estados nacionais que os constituíram. Não resta dúvidas de que a história, tal como a vivemos, se dá dentro dos marcos nacionais. A situação trágica – escorregando aqui e ali para a tragicomédia – que vivo agora, em fevereiro de 2019, deve-se ao que se passa em meu Estado nacional. Mas, como também resta claro nos dias que correm, as forças e os processos que a condicionam não são somente nacionais. Seria assim no século XIX? Há ainda outro plano de debate que os dois textos suscitam. Marques faz um ótimo diagnóstico dos hiatos contidos na proposta pioneira, elencando o que ainda há por fazer. A perspectiva, nos diz ele, requer um entendimento mais preciso do tempo que antecedeu a segunda escravidão (1), bem como das forças que a aboliram (2), com explicações que sejam capazes de articular as esferas econômicas, políticas e socioculturais (3). Ricardo Salles responde em parte às demandas 2 e 3, ao tomar por cerne de seu ensaio o exame dos Estados Unidos e sua brutal Guerra Civil. No entanto, para enfrentá-las a contento, eis meu comentário, temos que nos munir de uma teoria dos tempos históricos (na acepção que Reihart Koselleck [2014, p. 277-293] lhe dá), e levar às últimas consequências a conceituação da escravidão como uma instituição histórica , do capitalismo como uma estruturahistórica , e das relações entre ambos como relaçõeshistóricas que se desenrolaram em ritmos espaço-temporais descontínuos. Como argumentei em outro lugar com outro colega que nos acompanha neste livro (Marquese & Silva Jr., 2018), esta talvez seja a grande contribuição que nos trouxe o trabalho fundacional de Dale Tomich. *** Na demanda pela conceituação do que foi a primeira escravidão, coloca-se a necessidade de uma mirada de longa duração. Surge aqui o primeiro ponto de divergência com Ricardo Salles. Ele escora explicitamente sua apreensão do capitalismo na tradição teórica e historiográfica a que pertencem Maurice Dobb, Robert Brenner, Robin Blackburn e muitos outros, tradição esta que “vê na generalização das relações de trabalho assalariado o aspecto central e distintivo do capitalismo. (...) Esse

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