A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

75 COMENTÁRIO ESCRAVIDÃO HISTÓRICA E CAPITALISMO HISTÓRICO: NOTAS PARA UM DEBATE Rafael Marquese Os três autores engajados no debate desta sessão do livro, muitos dos que contribuem para este volume e outros que não estão diretamente envolvidos na atual empreitada, mas que aqui se fazem presentes por meio de referências bibliográficas e de um passado de discussão conjunta, partilham dois dos pressupostos que informaram a proposição do conceito da segunda escravidão: por um lado, a adoção de uma perspectiva teórica fundada em um historicismo realista e materialista (Morera, 1990); por outro, a atenção constante aos riscos da compartimentação dos estudos históricos (Sewell Jr., 2005). Como bem ressalta Leonardo Marques, a preocupação de todos nós recai sobre os “ grandes processos ”, ainda que alguns procurem acessá-los por meio de recortes microanalíticos. Dentro desse campo comum, contudo, há divergências, e são elas que nos motivam a seguir adiante. A principal discordância entre os dois ensaios que comento está na questão da unidade de análise. Ricardo Salles propõe um recorte explicitamente nacional ao apresentar uma defesa vigorosa – por meio do conceito gramsciano de bloco histórico – da importância de se tomar o Estado nacional (ou melhor, as relações sociais de produção que se articulam em espaços políticos historicamente determinados) como tal unidade. Enquanto Salles afirma a primazia analítica dos “blocos históricos específicos e particulares” conceituados a partir de suas especificidades nacionais, Marques ressalta que “uma incorporação do conceito de segunda escravidão nesses termos acaba por excluir o que considero um de seus elementos mais importantes, evidentemente herdado da abordagem de sistemas-mundo, qual seja: a compreensão do capitalismo como um sistema que transcende (mas não prescinde de) fronteiras políticas em sua combinação de múltiplas formas de trabalho”. É daqui que parto. Vou usar as considerações historiográficas de Leonardo Marques para comentar criticamente o ensaio de Ricardo Salles.

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