A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

67 Unidades de análise, jogos de escalas e a historiografia da escravidão no capitalismo Eltis, 2009). Outros trabalhos, como o já citado de Drescher, ou o clássico de David Brion Davis, de 1975, The Problem of Slavery in the Age of Revolution , nos ajudam a entender como essa mudança se traduziu em movimentos sociais (Drescher, 1987; Davis, 1975). Finalmente, compreender como a expansão desse abolicionismo levou a políticas governamentais e imperiais, como bem aponta Holt, demanda questões e abordagens distintas. Os dois níveis anteriores contribuem para o desenvolvimento do terceiro, mas a passagem entre eles não se dá de modo automático e sem mediações. Portanto, avaliar as dimensões globais do Império Britânico no longo século XIX é parte fundamental dessa discussão. A expansão da hegemonia britânica, com Londres emergindo como centro financeiro do mundo e um impulso para o livre comércio, dependeu dos enormes recursos oriundos do subcontinente indiano. Em outras palavras, a criação de uma zona de dominação informal do Império Britânico no Ocidente, como bem observa Giovanni Arrighi, dentre outros autores, dependeu de imperialismo formal no Oriente (Arrighi, 2006, p. 169-170; Findlay; O’Rourke, 2009, p. 406). O mundo de livre comércio e trabalho delineado pelos economistas políticos foi politicamente instaurado em função de transformações em escala global. Mais do que observar a lucratividade deplantationsescravistas ou o número de petições abolicionistas enviadas ao Parlamento Britânico de modo isolado, é necessário compreender o contexto mais amplo, que moldava e era moldado pelas decisões políticas do Império (Parron, 2018). Se praticada sem preconceitos, a leitura deCapitalismo e escravidãopode nos oferecer elementos importantes para essa discussão (Williams, 2012). Considerações finais A agenda de pesquisa colocada originalmente por Eric Williams voltou a pautar debates historiográficos contemporâneos sobre a escravidão nas Américas. Nesse contexto, as discussões geradas pelo conceito de segunda escravidão têm colaborado para manter o debate vivo e quebrar as amarras de um nacionalismo metodológico que continua a permear boa parte das contribuições historiográficas sobre o tema. Não apenas estamos conhecendo mais a fundo os mútuos condicionamentos entre as três principais sociedades escravistas do Oitocentos – Brasil, Cuba e Estados Unidos –, mas, também, avançamos na compreensão do lugar dessas sociedades escravistas no capitalismo global do século XIX.

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