A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

66 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica escravos (Tomich, 2016, p. 79). Diante dessa constatação, cabe questionar: seria possível compreender a ascensão de Cuba e a incapacidade da Guiana e Jamaica de acompanhá-la sem referência ao fato de que o fluxo de africanos escravizados para estes dois espaços fora cortado? Blackburn, por outro lado, parece incorporar algumas conclusões da Nova História Econômica ao colocar o movimento abolicionista no centro da história que conta emAmerican Crucible e rejeitar, de modo explícito, a segunda parte do argumento clássico de Williams, que considera o desenvolvimento do capitalismo como o principal responsável pela eventual destruição da escravidão no Novo Mundo (Blackburn, 2016). O grande desafio está em como integrar as esferas econômica, política e sociocultural nas narrativas que construímos do processo de emergência e destruição da segunda escravidão. Nesse sentido, Thomas Holt oferece um dos caminhos mais interessantes para se explorar a questão. Em uma resenha de um livro de Seymour Drescher, de fins dos anos 1980, Holt notava que a obra ajudava a compreender que a sociedade civil se mobilizou em apoio ao movimento abolicionista (em Capitalism and Antislavery , Drescher demonstrava que um conjunto específico de trabalhadores britânicos, mais especificamente artesãos independentes de grandes centros industriais como Manchester, teve papel central na transformação do abolicionismo em um movimento de massa), mas que, para compreendermos a abolição da escravidão, outros níveis de análise seriam necessários. O primeiro deles é a transformação mais geral nas sensibilidades, que fez com que, de uma instituição amplamente aceita em todo o mundo, a escravidão passasse a ser vista como uma das formas mais degradantes e negativas de organização do trabalho. O segundo nível de análise é o que explora como essa mudança de percepção em relação à escravidão se converteu em um movimento de massas, que é o que Drescher, dentre outros, ajuda a compreender com sua obra. Finalmente, um terceiro nível é o que permite entender como as demandas desse movimento de massas puderam se transformar em políticas governamentais e imperiais. A transição de um ao outro não é automática. No entanto, tem sido esse o procedimento recorrente em boa parte dos estudos sobre a abolição da escravidão (Holt, 1990). Todos os níveis de análise descritos anteriormente devem entrar nas narrativas em torno da ascensão e queda da segunda escravidão. Ao fazê-lo, podemos explorar a fundo a vasta bibliografia que tratou de cada um desses níveis. Trabalhos como o de David Brion Davis e David Eltis nos ajudam a compreender a significativa mudança cultural em relação à escravidão, que marcou o século XVIII na Grã-Bretanha (Davis, 2001;

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz