A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

68 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica A contribuição mais importante do conceito está em seu enquadramento teórico. Ao evitar a reificação das diferentes partes que formaram o capitalismo enquanto um sistema histórico, a abordagem, como vimos, abre inúmeros caminhos possíveis de pesquisa, inserindo a história da escravidão oitocentista no contexto mais amplo que a formou, e foi por ela formado. Assim, o procedimento sugerido por Tomich é mais importante do que o próprio conceito de segunda escravidão, pois aponta para formas alternativas de se pensar, também, outros períodos e espaços da história da escravidão nas Américas. Um enquadramento que não transforme um traço específico da realidade social em motor absoluto da História, seja ele a mentalidade supostamente arcaica de senhores de escravos no Brasil nem as relações de produção específicas de um determinado espaço, permite um rico diálogo com todo o conhecimento acumulado por décadas de produção historiográfica. Ao evitarmos a enrijecida dicotomia entre processos internos e externos, tal como sugeria Trouillot, podemos começar a explorar a fundo, por exemplo, como os mecanismos de endividamento, que estruturaram e combinaram diferentes formas de produção na América Portuguesa, tiveram importância para a trajetória histórica do capitalismo mundial. Definir o capitalismo ou sua ausência a partir das relações de produção ou reprodução (reciprocidade, redistribuição ou toma-lá-dá-cá impessoal) de uma sociedade, geralmente concebida como uma unidade isolada e fechada em si mesma, é contar apenas parte da história. Referências ANDERSON, Perry. Espectro : da direita à esquerda no mundo das ideias. São Paulo: Boitempo Editorial, 2012. ARRIGHI, Giovanni. Capitalism and the modern world-system: rethinking the nondebates of the 1970’s. Review (Fernand Braudel Center) , Binghamton, NY, v. 21, n. 1, p. 113-129, 1 jan. 1998. ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX : dinheiro, poder e as origens de nosso tempo . Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro, São Paulo: Contraponto/ Unesp, 2006. ASTON, T. H.; PHILPIN, C. H. E. The Brenner debate : agrarian class structure and economic development in pre-industrial Europe. Cambridge [Cambridgeshire], New York: Cambridge University Press, 1985.

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