A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

59 Unidades de análise, jogos de escalas e a historiografia da escravidão no capitalismo O weberianismo vulgar não pode mais ser mantido. A violência e o poder foram trazidos de volta para degradar um discurso liberal anacronicamente prematuro sobre as vantagens comparativas da Europa. Ainda assim, o debate sobre o significado de forças endógenas comparadas às exógenas para a transição precoce da Europa não pode chegar a uma conclusão. (O’Brien, 2005, p. 40-41) Em suma, O’Brien aponta para os limites de algumas abordagens tradicionais da História Econômica e para o fim do consenso historiográfico em torno das contribuições das Américas, África e Ásia para o desenvolvimento da Europa. Como combinar processos externos e internos permanece em aberto para O’Brien e outros pesquisadores da História Econômica (em grande medida como consequência da forma como constroem e enquadram o problema). Os trabalhos anteriormente mencionados, no entanto, conseguiram reabrir a discussão sobre capitalismo e escravidão, utilizando os instrumentos da própria História Econômica. Incrivelmente, todo esse debate parece passar batido na historiografia brasileira, consequência, acredito, da conclusão fortemente arraigada por aqui de que esse tema não nos interessa diretamente (exceto para comparações em torno daquilo que nós não somos). Importa particularmente, para nós, o fato de que a reorientação dos debates pelos especialistas em Ásia, recolocando a história dos metais preciosos no centro da discussão, abre caminhos importantes para compreender a História das Américas Ibéricas de uma perspectiva global (Tutino, 2016; Marques, 2017). Marxismos Uma longa e rica tradição de estudos marxistas sobre a escravidão, que vão dos tradicionais trabalhos de Manuel Moreno Fraginals (1964) às recentes contribuições de Ricardo Salles (2008), continua a animar e inspirar inúmeros debates sobre as relações entre capitalismo e escravidão. A forma como o debate é tratado varia, evidentemente, de acordo com as definições e enquadramentos do capitalismo enquanto processo histórico. Uma das definições mais fundamentais, amplamente compartilhada, foca na relação entre capital e trabalho assalariado, que se reflete em análises da história do capitalismo que localizam o sistema em sociedades nas quais tais relações se generalizaram e passaram, consequentemente, a operar de acordo com novos imperativos econômicos. Não raro, essa

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