A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

58 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica setores industriais e agrícolas locais, nas diferentes partes da Europa que estavam conectadas ao comércio atlântico (como ele mesmo fizera em 1982). De acordo com O’Brien, “não houve qualquer progressão evidente da construção de tijolos para a formulação de uma arquitetura” (O’Brien, 2005, p. 9-10). Um desafio adicional ao paradigma tradicional da Nova História Econômica veio com os trabalhos de um conjunto de especialistas em Ásia, que reorientaramo debate e derrubaram imagens arraigadas de uma suposta estagnação asiática ao longo dos tempos. O argumento tradicional de que a periferia tivera pouco peso no desenvolvimento da Europa sempre foi complementado por explicações endógenas, as quais enfatizavam as peculiaridades europeias que levaram à expansão do continente (ou de partes dele). Entretanto, Kenneth Pomeranz, acompanhado de outros sinólogos, demonstra que a maioria dessas supostas peculiaridades europeias também podia ser encontrada em partes da Ásia, como no delta do Yangtze, na China, formando o que descreve como um mundo de “semelhanças surpreendentes” (Pomeranz, 1999, p. 29-107). A Ásia se revelava muito mais dinâmica do que foi outrora representada. Vários outros estudos colaboraram para a revisão, demonstrando, por exemplo, que a China e a Índia drenaram parte significativa dos metais preciosos extraídos das Américas (Flynn; Giraldez, 2002; Parthasarathi, 2011). A partir dessa reconsideração do dinamismo asiático, Pomeranz explora o que levou a Inglaterra a seguir uma trajetória distinta da China, elencando a descoberta de grandes reservas de carvão mineral na própria Grã-Bretanha e a existência de colônias nas Américas, descritas por ele como “periferias de um novo tipo”, como os fatores decisivos para a “Grande Divergência” (Pomeranz, 1999, p. 209-297). Com esse argumento, Pomeranz contribuiu para uma reconsideração da agenda original proposta por Eric Williams. O papel da escravidão nas Américas para o desenvolvimento da Europa voltou a ser objeto de debate. Todas essas contribuições, combinadas com outras, discutidas mais adiante, colocaram por terra leituras que explicam o desenvolvimento europeu com base em características exclusivamente internas. Como reconhece O’Brien, a teoria de sistemas-mundo, junto com a reemergência da história econômica global, tem aumentado a percepção das ramificações da expansão ultramarina da Europa e ajudado historiadores do continente a escapar e modificar metanarrativas eurocêntricas tradicionais sobre os fundamentos e origens da transição para economias industrializadas.

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