A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

57 Unidades de análise, jogos de escalas e a historiografia da escravidão no capitalismo análise podem ter escala continental norte da América do Norte em contraposição à América Latina e o Caribe), mas são, ainda assim, tratadas como externas umas às outras (Engerman; Sokoloff, 2002). Críticos de Engerman e Sokoloff, como John Coatsworth, ampliam a unidade de análise, de modo a enfatizar heranças imperiais do Velho Mundo como fatores importantes para as diferentes trajetórias de desenvolvimento (como, por exemplo, as formas jurídicas da posse da terra predominantes na Península Ibérica). No entanto, continuam a ignorar a importância das articulações entre esses diferentes espaços como parte constitutiva dessa história (Coatsworth, 2005). Que essas diferentes partes possam estar articuladas em um todo integrado – e que isso possa ter papel fundamental nas diferenças que são o ponto de partida dessas análises – é uma possibilidade que passa ao largo desses debates. Essa dificuldade se reflete na forma como a discussão sobre capitalismo e escravidão foi abordada em boa parte dos escritos nessa tradição historiográfica. Como vimos, um certo consenso historiográfico emergiu a partir de avaliações da importância dos lucros do tráfico de escravos e da escravidão para as economias europeias. O procedimento recorrentemente empregado por críticos de Williams tem sido dividir as estimativas desses lucros, bem como de atividades correlatas, pelo produto interno bruto da Grã-Bretanha ou de outras nações europeias, consequentemente reduzindo a contribuição da escravidão à insignificância. Ou assim tentando. Como mais de um observador notou, não raro os números se mostraram mais altos do que qualquer entusiasta de Eric Williams poderia esperar (Findlay; O’Rourke, 2009, p. 335-336). Há, no entanto, um problema de fundo nessa polêmica, que diz respeito aos dados utilizados para rebater a argumentação de que as periferias escravistas tiveram importância para o desenvolvimento dos centros, como Wallerstein apontou em sua réplica ao artigo de Patrick O’Brien sobre a contribuição “periférica da periferia” (Wallerstein, 1983, p. 580-581). Dados produzidos por Estados-Nação são utilizados para avaliar processos econômicos que transcendem os espaços nacionais. O’Brien eventualmente voltaria a esse problema e reconsideraria sua própria posição original, reconhecendo ter engrenado em uma curva de aprendizagem nos anos após a publicação do artigo de 1982 (O’Brien, 2010). De acordo com o historiador, a História Econômica da Europa, baseada nas pesquisas em arquivos nacionais e locais, continua a ter como pressuposto a ideia de que generalizações a respeito da importância do comércio e da colonização europeias podem ser formuladas a partir de microestudos de caso, centrados em cidades costeiras específicas, ou de

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz