A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

56 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica da produção historiográfica mundial, incluindo muitas dessas contribuições mais recentes. Um aprofundamento nos debates sobre a segunda escravidão fornece pistas de caminhos possíveis para várias das questões anteriormente levantadas: a conceitualização do capitalismo enquanto sistema histórico, as relações entre a escravidão e o desenvolvimento do Ocidente, e a dialética entre as múltiplas escalas da análise histórica. Este capítulo explora tais questões, com apontamentos em torno de como o debate sobre capitalismo e escravidão tem sido tratado por algumas das principais tradições historiográficas que se dedicaram ao tema, buscando apontar as potencialidades e limites de cada uma delas. Nova História Econômica As características que definem o conceito de capitalismo estão longe de ser ponto pacífico entre pesquisadores. Grosso modo, no caso da Nova História Econômica, quando não se pressupõe uma disposição humana para a barganha e a troca (localizando capitalismo na Antiguidade, ou simplesmente descartando o conceito), caracteriza-se o capitalismo como uma forma específica de economia de mercado, marcada pela livre competição, direitos de propriedade bem definidos e a alocação de bens e serviços por meio de mercados, definição que também informa abordagens neoinstitucionalistas (Williamson; Neal, 2014). Poucos têm a ilusão de que esse modelo possa ser encontrado funcionando com perfeição na prática, mas o Ocidente moderno seria o espaço que mais se aproximou desse ideal (sem esquecer que, dentro desse mesmo Ocidente, novas distinções são com frequência estabelecidas entre as nações mais e as menos capitalistas) (North; Thomas, 1973). Nos estudos sobre a escravidão, a bibliografia recorrendo ao modelo é enorme, o “elefante no meio da sala”, como diz Dale Tomich (2016, p. 57). O conceito privilegiado em grande parte dos estudos de História Econômica, no entanto, é o de crescimento econômico, com análises das condições que podem estimular ou obstruir o desenvolvimento de determinados espaços. A unidade de análise pode variar de regiões a continentes, mas recorrentemente se restringe aos espaços regionais e nacionais específicos, até mesmo pela natureza das fontes passíveis de quantificação. Mesmo em análises de longa duração – como as oferecidas pelos influentes artigos de Stanley Engerman e Kenneth Sokoloff, sobre a importância dos factor endowments para as diferentes trajetórias econômicas dos Estados Unidos e da América Latina – , as unidades de

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