A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

43 A segunda escravidão e o debate sobre a relação entre capitalismo e escravidão. Ensaio de historiografia duradoura, no dinamismo e na modernidade da escravidão. Senhores de escravos do Sul, a escravidão e seu mundo não se encontravam em retirada, como muitas das velhas classes agrárias europeias no mesmo período. Pelo contrário, estavam em expansão. Mas, equivocaram-se. O desenvolvimento demográfico e econômico do norte-noroeste demonstrou, na prática, sua superioridade. Uma das condições do desenvolvimento capitalista do Norte foi a expansão da pequena propriedade, produzindo alimentos e demandando implementos agrícolas. Outra foi a existência de uma massa de trabalhadores livres à procura de empregos em troca de salários. Investimentos em infraestrutura de transportes e comercialização, assim como nas manufaturas e indústrias nascentes, passaram a atrair o interesse de banqueiros e empresários capitalistas. O tecido social que se urdiu, dessa maneira, propiciou e demandou a abertura de espaços para o homem comum através de uma política de massas marcada por concessões democráticas. Nesse ambiente, germinou a ideologia que via no indivíduo livre e sua família, inclusive no homem comum, o núcleo do trabalho, do espírito empreendedor e da vida social. Ricos senhores de escravos, com seus ideais aristocráticos e seu poder sobre homens, coisas e sobre a própria República, eram a antítese dessa visão, que passou a considerar a escravidão como degradação. Como um fator que, justamente, obstruía o aperfeiçoamento moral dos indivíduos, das famílias e da sociedade como um todo. Seu estancamento e futura abolição passaram a compor o horizonte de desenvolvimento da nação. Os abolicionistas, uma minoria, que, no entanto, crescia, queriam-na já e eram, cada vez mais, ouvidos no Norte. A implosão do segundo sistema partidário, com o virtual desaparecimento doswhigs , o maior alinhamento dos democratas com os interesses do Sul e o rápido crescimento dos republicanos no Norte, na segunda metade dos anos 1850, atestavam o novo curso do desenvolvimento econômico e político que se processava (Ashworth, 2012; Egnal, 2009). A Confederação apostou também em uma pretensa destreza militar de seus generais e bravura de suas tropas, o que lhe possibilitaria impor-se sobre o Norte nos campos de batalha. Tanto o cálculo do poderio econômico, quanto a avaliação militar correspondiam a tendências da realidade e quase prevaleceram. Em 1862, a Grã-Bretanha reconheceu o estado de beligerância e chegou perto do reconhecimento formal da Confederação como Estado soberano. Nas eleições de 1864, por sua vez, desgastado pela guerra contínua, Lincoln enfrentou a oposição daqueles que queriam obter algum tipo de compromisso com os Confederados.

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