A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

40 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica uma guerra de vida e morte para o Sul, que não apenas perdeu seu status político anterior, no interior da nação, como também teve seu modo de vida, se não completamente destruído, quebrado e transformado para sempre. E quando falamos do Sul, falamos principalmente de sua classe dominante de senhores de escravos e de seu mundo. Hoje há poucas dúvidas que a Guerra da Secessão foi uma guerra em defesa da escravidão. Como qualquer guerra, a da Secessão poderia não ter acontecido. Nenhuma força irresistível obrigou a elite política da Carolina do Sul a tomar a decisão de se separar da União. Tampouco obrigou os demais estados do Sul mais profundo e, em seguida, os demais estados do Velho Sul, a seguirem seu exemplo. O Norte, por seu lado, poderia ter aceitado a secessão, negociado a paz numa composição com a Confederação e, assim, até mesmo, conseguir o reestabelecimento da União em novas bases. Nada disso aconteceu. Por quê? 11 A questão se torna ainda mais relevante e paradoxal, se aceitarmos a linha interpretativa proposta em Slavery’s capitalisme em análises similares de que a escravidão desempenhou papel essencial no desenvolvimento do capitalismo norte-americano. Se é verdade que a escravidão esteve na ponta, ou ao menos teve uma grande relevância para o desenvolvimento econômico norte-americano, isso não se aplica quando consideramos o grande salto da economia, já então capitalista e em rápida transição para o capitalismo industrial, que a região dos Grandes Lagos, no noroeste do país, experimentou, a partir da década de 1840 (Egnal, 2009). No final da década de 1850, aqueles que tinham suas bases políticas no Norte e, principalmente, no noroeste capitalista, os republicanos, apostaram que o desenvolvimento dessa economia não só prescindia do aporte trazido pela economia escravista do Sul, como também requeria, de imediato, seu confinamento no território por ela já ocupado e, a longo prazo, sua abolição (Oakes, 2014). A história provou que estavam mais certos do que pensavam. O que aconteceu, tanto em termos da guerra quanto em termos de suas consequências, não estava nas previsões dos republicanos. 11 Sem ter espaço para desenvolver o ponto, descarto a explicação de que foi a incapacidade das lideranças políticas, de um lado e de outro, em lidar com suas divergências de forma pacífica, que teria levado ao conflito. Trata-se de uma explicação circular, que toma como causa aquilo que tem de ser explicado: exatamente por que essas liderançaserraramtanto e levaram seus erros às últimas consequências. Uma segunda explicação, também descartada, coloca no centro das divergências as concepções distintas sobre o alcance e o papel do Governo Central na federação e na vida dos estados. Resta explicar, contudo, o porquê de todos os estados escravistas terem aderido à Confederação, e todos sem escravidão, à União. Os três estados na divisa do Sul com o Norte, onde a escravidão era legal, mas residual, e que tinham suas economias dependentes do Norte, sintomaticamente, aderiram à União. Sobre o assunto, ver Ashworth (1995, 2007 e 2012) e Egnal (2009).

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