A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

39 A segunda escravidão e o debate sobre a relação entre capitalismo e escravidão. Ensaio de historiografia seu papel central e constitutivo em determinado momento da história do capitalismo (Beckert; Rockman, 2016, p. 10). Uma das características do campo de estudos do “capitalismo da escravidão” seria exatamente a de se afastar das formulações marxistas que “separavam escravidão e capitalismo em modos de produção antitéticos” (p. 9). Segundo os autores, não se trata de saber “se a escravidão em si era ou não capitalista (uma velha questão), mas sim da impossibilidade de se entender o espetacular padrão de desenvolvimento da nação sem situar a escravidão na primeira linha e em seu centro” (Beckert; Rockman, 2016, p. 27). Velhas questões são duras de matar O antigo debate sobre as relações entre capitalismo e escravidão, com frequência, caiu em discussões estéreis e excessivamente abstratas, nas quais, com facilidade se perdia o nexo entre a teoria e o desenrolar do processo histórico efetivo. O novo debate, como proposto em Slavery’s capitalism , não contém uma gota desse proselitismo. Mas é farto em julgamentos apressados, como o que decreta, entre parêntesis, que saber se a escravidão era capitalista ou não é uma “velha questão”, inferindo-se que, por ser velha , seja ultrapassada . E, talvez por conta disso, deixa de lado importantes problemas de interpretação histórica. Nos limites deste ensaio, ressaltarei dois pontos em que isso fica evidente. O primeiro é a explicação sobre as razões da Guerra da Secessão e suas consequências para a história posterior dos Estados Unidos. O segundo, mais diretamente relacionado à história brasileira, trata da relação entre escravidão moderna e desenvolvimento econômico capitalista. No primeiro caso, trata-se de um evento singular – uma guerra –, cujo desenrolar esteve sujeito a decisões, indecisões e ações de indivíduos, grupos e coletividades delimitados. Um evento marcado por acasos e vicissitudes. Já no segundo, temos um processo histórico geral, impessoal, com abrangência e desenvolvimento disseminados, em que as ações de agentes históricos específicos não aparecem ou não ocupam lugar central. Oxisda questão é que a guerra não pode ser explicada sem o processo e este tomou o curso que tomou, da forma que tomou, em larga medida, por consequência da guerra. Vejamos. A Guerra da Secessão foi um conflito de vida ou morte, uma guerra total – a primeira do mundo contemporâneo em que duas sociedades engajaram-se integralmente no conflito, que só terminou com a rendição incondicional e a destruição de um dos contendores. Na verdade, foi

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