A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

31 A segunda escravidão e o debate sobre a relação entre capitalismo e escravidão. Ensaio de historiografia com as manufaturas domésticas e coletivas. Em escala atlântica, envolvendo a América e a África, e secundariamente outras regiões do mundo, acarretou a exploração colonial, a escravização de africanos, o trabalho forçado de trabalhadores americanos, o extermínio de populações inteiras, pirataria e guerras. A partir de fins do século XVIII, até a primeira metade do XIX, em determinadas áreas da Europa Ocidental, notadamente na Inglaterra, e mesmo no Norte dos Estados Unidos, o capital penetrou no interior do próprio processo de trabalho com o advento da indústria moderna e a subordinação completa do trabalho ao capital. Na fábrica moderna, o trabalhador individual, já despossuído de seus meios de subsistência, deixou de contar com sua destreza individual, tornando-se parte de um corpo mais amplo, o trabalhador coletivo, inteiramente subsumido ao capital-máquina. Foi nesse momento que o capital no processo produtivo, mas também se estendendo por todas as esferas da vida econômica, passou a se acumular em ritmo e escala nunca antes experimentados, em um processo de ação ampliada, de forma aparentemente espontânea, através do livre jogo do mercado de compra e venda de mercadorias, inclusive de força de trabalho. É possível que isso ocorra porque toda forma econômica depende de aparatos político-jurídicos, assim como de práticas, crenças e concepções culturais que garantam suas condições de reprodução. O fato de que, no capitalismo, esses nexos não sejam imediatamente percebidos não os torna menos reais, nem menos efetivos. 4 Somente nesse momento, em que se consolida como tendência dominante na primeira metade do século XIX, é que se pode falar de capitalismo enquanto um sistema socioeconômico propriamente dito. Não por acaso, foi nessa altura que o neologismo foi cunhado e passou a ser empregado nas línguas das principais regiões em que essa nova forma de produção se desenvolvia: inglês, francês e alemão. 5 A contraposição entre essas duas tendências na discussão sobre a natureza do capitalismo reflete e, ao mesmo tempo, implica diferentes interpretações do processo histórico e de eventos específicos. Não se trata de uma sequência lógica imediata, do tipo se esta concepção teórica, 4 Sobre processo histórico de formação do capitalismo e a subordinação completa do trabalho ao capital, O Capital e osGrundrisse , assim como seus muitos comentaristas, permanecem como primeira referência (Marx, 1971; 2011).Ver também Harvey (2013). Sobre o debate a respeito do capitalismo, ver Hilton; Dobb; Sweezy et al. (1977), Aston; Philpin (1987) e Wood (2017). 5 Raymond Williams rastreou também as palavras capital e capitalistana língua inglesa (Williams, 2007 [1983], p. 70-72). Fernand Braudel o fez com ênfase no francês (Braudel, 1996 [1979], p. 201-216).

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