A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

29 A segunda escravidão e o debate sobre a relação entre capitalismo e escravidão. Ensaio de historiografia dade patriarcal e paternalista, tinham uma forte propensão para o lucro e para o mercado. No entanto, mantiveram a caracterização do Sul como uma sociedade e uma economia escravistas e pré-capitalistas, e continuaram a considerar as relações de trabalho e de propriedade como critérios fundamentais para definir a natureza das sociedades. Nesse sentido, a característica distintiva do capitalismo seria a transformação da força de trabalho em uma mercadoria que pode ser comercializada no mercado, o que só passou a acontecer plenamente com o advento da indústria moderna. No Sul, ao contrário, prevaleciam as relações de trabalho e de propriedade escravistas (Fox-Genovese; Genovese, 1983). Graham concordava com essa definição, mas advertia que isso não deveria se transformar em uma tautologia, que visse nas relações de trabalho assalariadas a própria causa do surgimento do capitalismo (Graham, 1990, p. 98). Outros fatores, de ordem cultural, teriam de ser levados em consideração para explicar o surgimento desse sistema e responderiam pelas distintas formas de desenvolvimento entre as sociedades, inclusive entre aquelas com relações de trabalho da mesma natureza. A comparação entre o Sul dos Estados Unidos e o Império do Brasil, ao salientar a profunda defasagem, em termos de desenvolvimento econômico, entre as duas sociedades igualmente escravistas, atestava este fato. O exercício de comparação permitia ainda que os historiadores pudessem “se livrar da falácia simplista de concluir que o que aconteceu tinha que acontecer” (Graham, 1990, p. 97). Capitalismo e escravidão no debate teórico-histórico O perigo da tautologia apontado por Graham está sempre presente no trabalho do historiador. No caso das relações entre capitalismo e escravidão, não apenas em relação ao primeiro termo, mas também em relação ao segundo, ainda que, na maioria das vezes, de maneira despercebida. Analisar as relações entre capitalismo e escravidão remete sempre, implícita ou explicitamente, a uma discussão sobre o que venha a ser capitalismo, mas não do que estamos falando quando utilizamos o termo escravidão. Os sentidos dicionarizados dessas palavras deixam isso claro. Para capitalismo , oDicionário Houaiss da Língua Portuguesa traz duas acepções principais. Em Economia, trata-se de “sistema econômico baseado na legitimidade dos bens privados e na irrestrita liberdade de comércio e indústria, com o principal objetivo de obter lucro”. Em Sociologia, é um “sistema social em que o capital está em mãos de empresas privadas ou

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