A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

28 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica mismo, ou a falta dele, das economias escravistas. Comparar o Sul com o Brasil poderia aumentar significativamente nosso entendimento sobre a instituição da escravidão e sua relação com o desempenho econômico (Graham, 1990, p. 97). Quando Graham publicou a primeira versão reduzida de seu texto, em 1981, o debate sobre as relações entre escravidão e capitalismo nos Estados Unidos, que vinha desde, pelo menos, os anos de 1960, estava em seu auge. 1 Eugene Genovese, para ficar no autor mais consagrado, em livro de 1967, assinalava o atraso econômico das economias escravistas, se comparadas com as economias capitalistas. Esse atraso econômico manifestava-se em termos de menor taxa de crescimento, de diversificação de atividades, menor volume da produção, de avanço tecnológico e de expansão do consumo e incremento do padrão de vida. Simplificando em muito a discussão, dois fatores distinguiriam o capitalismo da escravidão. Por um lado, o trabalho livre e assalariado seria superior ao trabalho escravo em termos de produtividade. Por outro, também a mentalidade mais racional, mercadológica , 2 objetivando o lucro dos empresários capitalistas, seria mais eficaz do que a mentalidade patriarcal dos senhores de escravos, focada principalmente na busca de status e poder. Tal mentalidade, advinda das relações sociais escravistas, os impediria de optar racionalmente pela exploração dos trabalhadores livres, que lhes seria, em tese, mais vantajosa (Genovese, 1976 [1967]). Essas ideias foram atacadas por estudos cliométricos, que buscaram demonstrar que o trabalho escravo era tão ou mais produtivo do que o trabalho assalariado livre da época. Portanto, a opção econômica pela escravidão era altamente lucrativa e, assim, racional e capitalista. Nessa interpretação, até mesmo a superioridade dos padrões de vida dos trabalhadores livres em relação aos escravos era colocada em questão (Fogel; Engerman, 1995 [1974]). Outros historiadores, sem corroborar essa última conclusão, viram os senhores sulistas como verdadeiros capitalistas, que exploravam os trabalhadores escravos assentando essa exploração em uma dominação racial (Oakes, 1998 [1982]). Em livro posterior, escrito a quatro mãos, Genovese e sua esposa, Elizabeth Fox-Genovese, reconheceram que os senhores de escravos sulistas, ao lado de sua mentali1 Essa primeira versão apareceu naComparative Studies in Society and History , v. 23, n. 4, p. 620-655, out. 1981. Uma versão em português, sob o título Escravidão e desenvolvimento econômico: Brasil e Estados Unidos no século XIX, apareceu em 1983, naEstudos Econômicos , São Paulo, v. 13, n. 1, p. 223-257. 2 Empregarei a palavra mercadológicano sentido de atividade voltada para o mercado com fim de obtenção de lucro, sem o sentido usual relativo aomarketing , enquanto conjunto de práticas e saberes específicos relativos ao mercado.

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