A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

27 A SEGUNDA ESCRAVIDÃO E O DEBATE SOBRE A RELAÇÃO ENTRE CAPITALISMO E ESCRAVIDÃO. ENSAIO DE HISTORIOGRAFIA Ricardo H. Salles Para discutir a questão das relações entre capitalismo e escravidão no século XIX, esse ensaio vai tratar, principalmente, dos Estados Unidos. Isto porque foi lá que o problema dessas relações se apresentou de forma mais aguda e porque, em certa medida, é lá que essa questão, depois de ficar adormecida por pelo menos duas décadas, volta, hoje, às discussões historiográficas. O tema, no entanto, não é apenas de interesse norte-americano, mas também brasileiro, uma vez que o Brasil foi a outra grande nação escravista do século XIX. A escravidão no Sul dos Estados Unidos e no Brasil no século XIX foi objeto de comparação em texto de Richard Graham, publicado em 1990. Segundo o historiador norte-americano, o fato de que os Estados Unidos, na mesma época, também estivessem se transformando em uma grande economia industrial levou a que a historiografia do país no período fizesse comparações entre o Norte, onde se desenvolvia esse capitalismo, e o Sul escravista, onde isso não ocorreu. Diversos pesquisadores, principalmente Eugene Genovese e Elizabeth Fox-Genovese, talvez os mais afamados historiadores da escravidão estadunidense naquele período, argumentavam que, isoladamente, tratava-se da principal causa dessa diferença. O fato de que o Brasil e outras regiões escravistas também não tivessem se industrializado parecia corroborar essa avaliação. Entretanto, apesar de concordar em linhas gerais com os Genovese, na comparação entre o grau de desenvolvimento do Velho Sul e do Brasil, Graham considerava que outros fatores deveriam ser levados em conta. O Sul era bastante adiantado e, até mesmo, industrializado, se comparado com outras sociedades escravistas, para que a escravidão fosse considerada a única linha divisória entre desenvolvimento e atraso econômicos. Certamente, o Sul não era tão industrializado quanto o Norte, mas poucas áreas do mundo, naquela época, o eram. Assim sendo, outros fatores, de ordem cultural, poderiam melhor avaliar e descrever o dina-

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