A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

20 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica a segunda escravidão, os centros escravistas emergentes se constituíram como partes fundamentais do mercado industrial e de sua cadeia produtiva, impulsionando a expansão e a reprodução do capitalismo no mundo. Desse modo, o conceito de segunda escravidão traz como princípio e proposição fundamental assinalar e investigar as relações historicamente intrínsecas, mesmo quando contraditórias, entre o desenvolvimento do capitalismo e da escravidão no século XIX. Não se trata apenas de uma questão de interpretação sobre o passado. A reflexão sobre as relações entre capitalismo e escravidão no Mundo Atlântico e no Brasil em particular traz consigo o problema histórico de como a escravidão moldou o capitalismo brasileiro no século XIX e na atualidade. Na base das grandes fortunas das elites pós-independência estão os lucros provenientes do tráfico internacional (legal ou ilegal) de escravos, do comércio de artigos ligados à escravidão, da expropriação de direitos e da exploração do trabalho de inúmeros crioulos, africanos e africanos livres por gerações. Por mais que a campanha abolicionista e o movimento dos escravos pela emancipação tenham sido vitoriosos no 13 de Maio, eles não foram capazes de se transformar em lutas nacionais por direitos sociais e igualdade racial. Hoje, mais de 130 anos depois, essa pauta é cada vez mais urgente no país que mais mata jovens negros em idade entre 15 e 29 anos, que possui a quinta maior taxa de feminicídio do mundo, sendo a maioria das vítimas mulheres negras, e que insiste em retirar direitos das populações mais pobres em prol de um capitalismo de agenda neoliberal. Tais índices não são meros acidentes de percurso. Eles têm fundamento histórico e se justificam, dentre outras coisas, pela construção de uma nação calcada na hierarquia e na exploração da mão de obra escrava. A partir desse pano de fundo, um grupo crescente de pesquisadores, nacionais e estrangeiros, têm se voltado para o uso do conceito de segunda escravidão, no sentido de abrir novos problemas e roteiros investigativos dentro do campo dos estudos da escravidão. Boa parte desse esforço se realizou, direta ou indiretamente, através de uma rede internacional de pesquisadores articulados em torno da Second Slavery Research Network, que tem seu centro de animação no Fernand Braudel Center for the Study of Economies, Historical Systems, and Civilizations , em Binghamton, EUA. No Brasil, o debate foi fomentado, principalmente, no âmbito do Laboratório de Estudos sobre o Brasil e o Sistema Mundial (Lab-Mundi/USP), que organizou, entre outros eventos, o seminário internacional e o livro homônimo Escravidão e Capitalismo histórico no século XIX (Marquese; Salles, 2016), e do grupo interinstitucionalO Império do

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