A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

19 INTRODUÇÃO Mariana Muaze Ricardo H. Salles Longe de ser uma instituição moribunda durante o século XIX, a escravidão demonstrou toda a sua adaptabilidade e vitalidade. Dale Tomich (Pelo prisma da escravidão). Nos últimos anos, os estudos sobre a escravidão oitocentista têm tomado uma nova dimensão com a ideia de que essa escravidão não seria apenas remanescente do regime colonial, mas uma escravidão em interação com a construção de Estados nacionais e com a expansão internacional do mercado capitalista. Portanto, uma escravidão renovada, uma segunda escravidão , conforme conceito cunhado pelo historiador norte-americano Dale Tomich (1988). Essa segunda escravidão se expandiu exatamente no momento em que a escravidão colonial era abolida pela Revolução Haitiana e por guerras e reformas em outras regiões americanas. Ela alimentou e, ao mesmo tempo, derivou de um conjunto de tendências e acontecimentos históricos na virada do século XVIII para o XIX, cujo epicentro foi a Revolução Industrial e a consolidação da hegemonia britânica no plano internacional. Esses acontecimentos e processos levaram à maior procura por novas matérias-primas, como o algodão, e mercadorias tropicais como o café e o açúcar, que se tornaram produtos de consumo de massa ao serem incorporados à dieta básica dos trabalhadores e das classes médias urbanas. Nas novas regiões – Cuba, Sul dos Estados Unidos e Vale do Paraíba no Brasil – a escravidão se expandiu em escala maciça, antes nunca experimentada, para atender a uma crescente demanda mundial por estas commodities . Nessas áreas, à margem do comércio Atlântico até fins do Setecentos, surgiram imensas plantations cultivadas intensamente através da mão de obra negra africana e viabilizadas através do tráfico Atlântico. Seumodus operandi se diferenciava da escravidão colonial por suas conexões com os Estados, a formação de classes senhoriais de caráter regional e mesmo nacional, a modernidade tecnológica, principalmente com investimentos em ferrovias e máquinas de desenvolvimento agrícola, os bancos nacionais e estrangeiros, e o compromisso com a alta produtividade. Assim, durante

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