A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

164 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica manufaturas em várias províncias, durante a Primeira República as condições particulares do complexo paulista impulsionaram um crescimento industrial que o apartou dos demais, em uma unidade contraditória entre café e indústria que só seria superada na década de 1930 (Silva, 1981, p. 97-105). O texto de Walter Pereira analisa a economia de Campos dos Goytacazes na segunda metade do século XIX e apresenta uma visão muito refinada sobre espaço geográfico que articula o desenvolvimento regional aos processos de expansão da segunda escravidão e do capitalismo global. O ponto alto do trabalho é a forma como Pereira mobiliza uma noção de região que extrapola os limites administrativos das províncias e enfatiza vínculos econômicos. Campos é concebida como o centro de um espaço constituído pelo norte fluminense, o sul do Espírito Santo e alguns municípios da Zona da Mata de Minas Gerais. O enquadramento proposto pelo autor demonstra como as análises que operam a partir de divisões administrativas e políticas tendem a ser superficiais. O estudo de Pereira é particularmente importante para examinar a forma como a escravidão brasileira se desenvolveu na segunda metade do século XIX. Campos, região açucareira pujante desde o fim do século XVIII, manteve uma numerosa população escrava até às vésperas da Abolição. Embora o açúcar ainda constituísse o setor mais importante da economia campista, foi o cultivo do café e a articulação mercantil e financeira com as zonas cafeeiras do Espírito Santo e de Minas Gerais que manteve o dinamismo da escravidão. O café e o açúcar se reforçaram em simbiose e promoveram uma profunda transformação econômica na região, que ganhou ferrovias, bancos, indústrias, engenhos a vapor, serviços urbanos e obras de infraestrutura. O município de Campos cresceu como centro desse espaço econômico. Na década de 1880 era um dos cinco maiores do Império, incluídas suas freguesias urbanas e rurais. Sua evolução demográfica também demonstra que a manutenção da escravidão dependeu do café. A população escrava das freguesias cafeeiras cresceu até a década de 1860, quando nas demais já estava em declínio. O texto nos permite observar no espaço campista a relação entre os setores do café e do açúcar, que analisei anteriormente no contexto mais amplo da economia brasileira. Com sua produção voltada ao abastecimento da cidade do Rio de Janeiro e da província fluminense, os engenhos de Campos modernizaram parcialmente suas plantas produtivas. Na década de 1870, de 377 fábricas de açúcar e aguardente que existiam na região, 252 eram movidas a vapor. Apesar da crescente dificuldade para repor a mão de obra, a introdução de aperfeiçoamentos técnicos

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