A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

165 Segunda escravidão, espaços econômicos e diversificação regional no Brasil imperial permitiu que o município exportasse a quantidade respeitável de 17 mil toneladas de açúcar para o Rio de Janeiro naquela década. Às vésperas da Abolição, ainda era o setor açucareiro o que mais empregava escravos no município. Por outro lado, a extensão da malha ferroviária contemplou prioritariamente as áreas de ocupação mais recentes produtoras de café, que também formavam um espaço de articulação com as zonas cafeeiras do Espírito Santo e Minas Gerais. Campos era o centro dessa conexão ferroviária e abrigava três terminais. A cidade também se destacou na segunda metade do século XIX como uma importante praça mercantil que integrava diferentes áreas produtivas. Segundo Pereira, a centralidade da cidade no espaço econômico do Norte Fluminense, com suas ligações com o Espírito Santo e Minas, pode ser aferida não apenas por suas remessas de açúcar, café e aguardente, mas também pela grande quantidade de casas comerciais, pela existência de duas instituições bancárias e pela arrecadação tributária do município, equivalente à soma da arrecadação dos sete municípios da região sul do Vale do Paraíba. No entanto, eu entendo que neste último caso a comparação proposta pelo autor não é mais adequada. Pode se dizer que, assim como Campos postulava o posto de centro mercantil e administrativo do norte fluminense, era a cidade do Rio de Janeiro, e não os municípios do interior, que inegavelmente constituía o centro mercantil, financeiro e administrativo da região sul do Vale. A noção de região apresentada por Pereira remete à categoria de espaço econômico, caracterizado pela existência de um centro e zonas produtivas diversificadas a ele articuladas. Um espaço econômico não necessariamente corresponde a uma jurisdição política. A posição dominante que uma cidade ocupa deriva de sua importância como polo produtivo dinâmico ou centro mercantil. Em um espaço econômico integrado, a intensidade do intercâmbio que cada zona mantém com outras do mesmo espaço é superior à que cada uma delas (exceto o centro) mantém com a arena exterior (Perroux, 1950; Assadourian, 1982). A análise de Pereira sugere que Campos se estabeleceu como centro de um espaço econômico emergente na segunda metade do século XIX. Na medida em que os espaços se consolidam, surgem grupos que buscam expressar politicamente seus interesses econômicos e institucionais. Pereira elenca uma série de iniciativas das elites locais nas Assembleias provinciais com o fim de fortalecer a articulação entre Campos, a Zona da Mata e o Espírito Santo, por meio de obras de infraestrutura, construção de ferrovias, abertura de estradas e melhoramento dos portos. Contudo, os projetos que colocariam Campos como centro

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