A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

162 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica escravidão colonial e com suas formas de integração nas cadeias mercantis do capitalismo global. Nesse processo, para assegurar sua continuidade, se unificou como um espaço intermediário do sistema mundial, que Parron conceitua como a oikoumenê da segunda escravidão (Parron, 2015, p. 452-462). Ao ler o conceito sob a ótica da incorporação analítica das dimensões da economia-mundo, do Estado nacional e do sistema interestatal, a diversidade regional da escravidão brasileira no século XIX deixa de ser vista como uma anomalia ou sobrevivência arcaica destinada fatalmente ao desaparecimento ou, ao contrário, como prova da continuidade da escravidão colonial para se tornar um fenômeno substantivo na evolução da segunda escravidão no Brasil. A expansão do café teve um impacto contraditório na economia escravista brasileira. Até o fechamento do tráfico transatlântico, ela foi o veículo que assegurou a prosperidade de todas as formas de produção escravista e delas se alimentou. Na segunda metade do século, sua crescente vitalidade em um contexto em que as condições de reprodução do escravismo haviam se modificado, dinamitou as bases da diversificação, gerou concentração e perda da legitimidade social do cativeiro. Os dois trabalhos desta seção oferecem contribuições originais e sugestivas para repensarmos o lugar da diversidade regional brasileira nos quadros da segunda escravidão. Luiz Fernando Saraiva e Rita Almico indicam balizas para a investigação da relação entre a escravidão e os processos de industrialização no Brasil. Os autores demonstram que, em diversos espaços do Império, a expansão de atividades primário- -exportadoras foi acompanhada por uma crescente urbanização e pelo desenvolvimento de setores de serviços e manufaturas. Se valendo da formulação de Wilson Cano sobre os complexos agroexportadores e da interpretação de Wilson Suzigan sobre o setor exportador como indutor do desenvolvimento industrial, Saraiva e Almico entendem que o fortalecimento da escravidão foi fundamental para a constituição de mercados regionais e para a acumulação de capitais que podiam ensejar processos de industrialização. Discordando de Cano, porém, eles argumentam que a formação de um complexo agroexportador não foi atributo exclusivo da economia cafeeira no Oeste de São Paulo. Diversas regiões brasileiras também desenvolveram complexos agroexportadores e mercados regionais e até o fim do século XIX os indicadores de industrialização (fábricas, emissão de patentes e fundação de instituições de crédito) não estavam concentrados em São Paulo. Sem ser especialista no tema, eu gostaria

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