A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

16 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica o Atlântico no oitocentos, que depende de uma forma de análise e explicação histórica metodologicamente distinta (Tomich, 2018). É desse ponto de vista que os capítulos deA Segunda escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Históricapodem ser avaliados. Ao levantar a questão de como entender e escrever a história de um espaço particular com a abordagem metodológica e teórica oferecida pela segunda escravidão, eles oferecem uma contribuição teórica e historiográfica à crescente produção acadêmica realizada sob essa perspectiva. Não se trata da história particular de uma unidade nacional específica. Tampouco, se trata de simplesmente de explicitar a estrutura do todo econômico-mundial e explicar a história nacional por meio de sua posição nesse todo. Essas duas alternativas são descartadas. Em vez disso, os artigos consideram o Brasil como uma unidade de ação social constituída no interior dos processos formativos das economias-mundo e atlânticas, ao mesmo tempo que contribui para a formação do capitalismo mundial. Isto é, eles historicizam o Brasil, que aparece como uma zona de convergência de múltiplos campos de força com tamanho, duração e força variáveis, como objeto de investigação. O objetivo é especificar os processos e relações que formam e reformam o Brasil, estabelecendo suas interações e formação mútua na conjuntura histórica específica da segunda escravidão. As relações, e consequentemente as próprias unidades de observação são, assim, modeladas e remodeladas continuamente pelos próprios processos sob investigação. Os autores deixam aberta a questão em torno das fronteiras dos processos avaliados em vez de presumir que tais limites estão dados. Eles tratam as delimitações do Brasil como uma unidade de observação que é formada nas relações em transformação do capitalismo histórico, do Atlântico e do espaço nacional, em vez de uma demarcação fixa entre o que é interno e o que é externo. Ao mesmo tempo, atentam para as diferenças espaciais e temporais tanto no Brasil quanto entre o Brasil e outras zonas da economia-mundo oitocentista. Partindo do modelo conceitual da segunda escravidão eles buscam explorar novas questões que atravessam múltiplas escalas espaço-temporais: o desenvolvimento de formações regionais no Brasil, a escravidão em diversos setores econômico-sociais e seu papel no desenvolvimento socioeconômico, e as condições para a hegemonia dos grupos políticos e econômicos que unificaram o espaço nacional. A atenção para a micro-história também nos lembra dos limites de uma história conceitual. O foco no micro não é na pequena escala e sim na ação individual irredutível (a “margem especulativa não suprimível”) que se encontra atrás do que Carlo Ginzburg chama de “equalização dos indivíduos” que inevitavelmente acompanha a generalização concei-

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