A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

159 Segunda escravidão, espaços econômicos e diversificação regional no Brasil imperial 74-75). Em 1850, os proprietários de pelo menos cinquenta cativos detinham 22% dos escravos. Se contabilizarmos os que possuíam no mínimo vinte, o que os qualificava como planters , a proporção sobe para 51%. A outra metade residia em unidades menores (Gray, 1933, p. 530). 11 No Brasil, a posse era mais dispersa. Na década de 1870, os proprietários que possuíam até 19 cativos detinham 73% dos escravos nas regiões contempladas pela pesquisa de Renato Marcondes. Os grandes proprietários (quarenta ou mais) concentravam apenas 14% dos escravos. Se incluirmos no grupo os que possuíam pelo menos vinte a proporção aumenta para 27% (Marcondes, 2009, p. 175). Sua amostra, contudo, sub-representa municípios cafeeiros do Rio de Janeiro e Minas Gerais, o que seguramente enviesa os resultados. Diversas pesquisas demonstram que na segunda metade do século XIX o acesso à propriedade escrava se tornou mais restrito. Os pequenos proprietários perderam seus cativos, ao passo que os grandes tinham mais recursos para mantê-los. Muitos fazendeiros de café ampliaram suas escravarias. O declínio da escravidão urbana, notoriamente mais pulverizada, também reforçou a tendência para uma progressiva concentração (Luna; Klein, 2010, p. 89-164). A expansão cafeeira promoveu concentração desde o princípio. Pequenos proprietários cultivavam o artigo, mas as grandes fazendas logo se tornaram a regra. Ricardo Salles demonstrou que elas dominaram a paisagem do Vale do Paraíba fluminense desde a década de 1830. Entre 1836 e 1880, os grandes proprietários (cinquenta escravos ou mais) detinham 70% dos escravos de Vassouras (Salles, 2007; Salles, 2008). Na zona paulista do Vale, alguns municípios apresentavam o mesmo perfil. Em Bananal, os grandes proprietários detinham mais de 75% dos escravos 11 A planta produtiva dos diferentes artigos era decisiva na conformação da estrutura da posse de escravos. Os engenhos de açúcar e as plantações de arroz exibiam concentrações mais elevadas. As fazendas de tabaco e trigo, mais baixas. As plantations de algodão ficavam num patamar intermediário (Niemi Jr., 1977). Nos distritos açucareiros da Louisiana os proprietários de pelo menos cinquenta escravos controlavam mais de dois terços dos escravos e das terras e eram responsáveis por três quartos da produção (Follett, 2005, p. 21-33). As vinte e nove maiores plantações de arroz da Carolina do Sul e da Geórgia em 1850 tinham pelo menos trezentos escravos e seus proprietários possuíam em média quatrocentos e cinquenta, não necessariamente no cultivo de arroz. Em 1860, havia apenas quatorze propriedades em todo o Sul com mais de quinhentos escravos. Nove eram plantações de arroz (Dusinberre, 1996, p. 387-396). O padrão de concentração do açúcar e do arroz, no entanto, não teve um impacto abrangente na estrutura de posse do Sul como um todo, pois esses setores juntos reuniam apenas 10% da população escrava. O mesmo pode ser dito sobre o tabaco (12%) e os serviços e manufaturas urbanas (12%). O setor algodoeiro concentrava quase 65% dos escravos. Calculei a distribuição com base na estimativa de J. D. B. DeBow, superintendente para o censo de 1850, também utilizada por Gavin Wright, Stanley Engerman e Robert Fogel.

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