A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

155 Segunda escravidão, espaços econômicos e diversificação regional no Brasil imperial reduziram, a fatia dos concorrentes (Parron, 2015, p. 283-285; 322-327; 454-459). No Brasil, no entanto, não ocorreu um processo semelhante de especialização cafeeira como em Cuba com o açúcar. Uma série de fatores ajuda a explicar a situação. A ocupação territorial brasileira era mais extensa e sua população, livre e escrava, maior e mais bem distribuída entre o Sudeste cafeeiro e o Nordeste açucareiro. A competição por terras e mão de obra entre os dois setores não era nem de longe acirrada como em Cuba, talvez fosse até inexistente, salvo em algumas áreas. Mesmo depois do fim do tráfico transatlântico, demorou a se estruturar um mercado interno unificado de escravos. Existiam mercados regionais até o deslanche do tráfico interprovincial na década de 1870. Além disso, os mercados e processos produtivos do café e do açúcar eram distintos. O principal importador do açúcar brasileiro era a Grã-Bretanha, mas vários países europeus e alguns da América do Sul também eram importantes. Já o mercado de café tinha poucos compradores e, entre eles, os Estados Unidos despontavam soberanos com 40% das importações mundiais no fim do século XIX (Topik, 2003, p. 37). Isso significa que a tomada do mercado estadunidense pelo café brasileiro teve um impacto imediato e decisivo para os fazendeiros de Cuba. Já o domínio do açúcar cubano sobre o mesmo não teve um efeito comparável para os senhores de engenho do Brasil, embora certamente tenha limitado seu horizonte de expansão. O peso do consumo doméstico de açúcar, muito mais vultoso do que o de café, também ajuda a compreender a tenacidade do setor em uma conjuntura internacional adversa. Sabe-se que em meados do século XIX, os produtores do Rio de Janeiro e de São Paulo passaram a abastecer o mercado interno (Melo, 2009, p. 90-120; Corrêa do Lago, 2014, p. 108-118). No início da década de 1870, um terço do valor do açúcar comercializado via marítima no Brasil não se destinava a portos estrangeiros, mas sim a outras províncias, com destaque para São Paulo e Rio Grande do Sul. O contraste com o café é marcante, pois apenas 9% era comercializado no país. Pernambuco, o principal exportador de açúcar, escoava um quarto de suas vendas via comércio de cabotagem (Marcondes, 2009, p. 45-58; 123-127; 217-220). 8 O peso do mercado doméstico se torna ainda mais significativo se considerarmos que em praticamente todas as províncias brasileiras se produzia açúcar e muitas delas eram au8 Parte dos artigos transportados via cabotagem era reexportado ao exterior. No caso do açúcar, 65% eram consumidos no mercado doméstico. No do café, apenas 31% (Marcondes, 2012, p. 161-163).

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