A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

154 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica média anual de escravos desembarcados teve um crescimento de 40%. No Norte e Nordeste, uma queda de 57%. A pressão competitiva do mercado integrado mundial de commoditiesda periferia jogou a produção brasileira de algodão em crise e a de açúcar em ritmo de crescimento lento. Os efeitos da nova conjuntura atingiram de maneira desigual os setores e as províncias produtoras dos dois artigos, também em função de circunstâncias locais. As exportações de algodão, cultivado especialmente no Maranhão e em Pernambuco, haviam crescido exponencialmente depois da década de 1780, puxadas pela demanda da industrialização britânica. A produção norte-americana reconfigurou o mercado mundial e provocou declínio dos preços do artigo a partir de 1819. As exportações brasileiras decaíram em valor e depois de 1837 também em volume, especialmente no Maranhão. O setor se recuperou brevemente durante a Guerra de Secessão (Pereira, 2017, p. 24-80). Na década de 1820 o algodão ainda representava 21% do valor das exportações brasileiras, participação que caiu para 7,5% na década de 1840 (Pinto, 1977, p. 135). A trajetória do açúcar é mais complexa. O volume e os ingressos das exportações brasileiras cresceram até a década de 1850. Só é possível identificar uma crise no período posterior, quando o incremento do volume exportado não mais compensava a queda dos preços. 7 Contudo, uma mirada comparativa com a trajetória do açúcar cubano demonstra a perda de dinamismo do setor em um momento de expansão da demanda na Europa e nos Estados Unidos. Entre os quinquênios 1821-25 e 185660, a média anual de açúcar exportado no Brasil aumentou de 41 mil para 106 mil toneladas métricas, enquanto em Cuba saltou de 63 mil para 435 mil. Assim como a competitividade da produção cafeeira do Brasil havia contribuído para deprimir a de Cuba, a eficiência da produção açucareira cubana limitou as possibilidades de crescimento da brasileira (Marquese, 2019, p. 147-149). Para compreender a relação entre os movimentos, a chave é o mercado consumidor dos Estados Unidos, que se expandiu fortemente a partir da década de 1830. Por suas respectivas capacidades produtivas, bem como por políticas tarifárias e redes mercantis, os cafeicultores brasileiros e senhores de engenho cubanos encontraram nos Estados Unidos seu principal mercado e expulsaram, ou pelo menos 7 Dados sobre o volume e valor das exportações de açúcar foram compilados por Eisenberg (1974, p. 9-10). A crise atingiu as zonas produtoras de modo desigual. A Bahia experimentou estagnação e declínio a partir da década de 1860, mas Pernambuco e outras províncias do Nordeste ampliaram sua produção. Para o desempenho das diferentes províncias cf., além de Eisenberg, Barickman (2003; 1996) e Galloway (1971).

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz