A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

153 Segunda escravidão, espaços econômicos e diversificação regional no Brasil imperial a incorporação de mais terras e trabalhadores (Funes; Tomich, 2009). Plantations com centenas de escravos proliferaram. Em Matanzas, havia em média 159 por engenho, em Havana 149 e em Santa Clara 90 (Scott, 2000, p. 22). Mesmo se tomarmos Cuba em seu conjunto, a posse era concentrada. Em 1857, um quarto dos escravos pertencia a grandes proprietários, possuidores de mais de 80 cativos. Computadas apenas as unidades rurais, a proporção atingia 31% (Engerman; Higman, p. 74). No Brasil, o novo regime de trocas também provocou uma mudança substancial no desenvolvimento econômico, social e geográfico da escravidão. Entre 1831 e 1850, pouco menos de 740 mil africanos escravizados desembarcaram nos portos do Império, uma média anual de quase 37 mil. A diminuição da intensidade do tráfico na comparação com o período 1811-1830 pode ser explicada por dois fatores. Primeiro, os agentes que conceberam e aprovaram a lei de 7 de novembro de 1831, bem como traficantes e proprietários, acreditavam que ela cessaria o comércio transatlântico de escravos. Não se tratou de uma “lei para inglês ver” e os números do tráfico assim o demonstram. Entre 1831 e 1834, foram introduzidos apenas 46 mil escravos. Foi somente no fim da década de 1830 que a cada vez mais poderosa classe senhorial do eixo Rio-Minas-São Paulo logrou costurar uma aliança com agentes políticos para reabrir o tráfico transatlântico por meio do contrabando em larga escala protegido pelo Estado imperial (Parron, 2011, p. 84-191; Parron, 2015, p. 309-348). O segundo fator está relacionado ao desempenho dos setores da economia escravista no Brasil. Se no período 1791-1830 diferentes províncias e atividades produtivas se beneficiaram da aceleração do tráfico negreiro em um contexto de crescimento e dinamismo de suas economias, agora a demanda era puxada pelas zonas de expansão da cafeicultura no Sudeste. O Centro-Sul foi o destino de 78% dos africanos escravizados que chegaram ao Brasil entre 1831 e 1850. A população escrava da província do Rio de Janeiro (excetuando a Corte) saltou de 120 mil em 1821, para 294 mil em 1850. Em São Paulo, de 64 mil em 1822, para 118 mil em 1854. Na Corte, de 55 mil em 1821, para 111 mil em 1848 (Luna; Klein, 2010, p. 192-195). A desaceleração do crescimento econômico das províncias do Norte já era visível desde a Independência, e houve retração do ritmo do tráfico na década de 1820 em comparação à anterior. As entradas diminuíram 45% no Maranhão e Grão-Pará, e 15% na Bahia e Pernambuco, ao passo que aumentaram 51% no Rio de Janeiro. A comparação global dos períodos 1791-1830 e 1831-1850 amplifica o contraste. No Centro-Sul, a

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