A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

147 Segunda escravidão, espaços econômicos e diversificação regional no Brasil imperial Uma preocupação central dos historiadores que trabalham com o conceito, evidente entre os participantes do Seminário que deu origem a este livro, é evitar seu engessamento. Mais do que uma categoria, julga-se conveniente pensar a segunda escravidão como uma perspectiva de produção de conhecimento histórico sobre a escravidão moderna, cujos fundamentos seriam o enquadramento analítico global, a atenção às escalas e unidades de análise e observação, e o esforço dirigido para a construção de interpretações e explicações totalizantes dos processos históricos. Assim se evitaria, por um lado, a reificação do conceito – no sentido de definir com absoluta precisão e completude seu conteúdo empírico a ponto de torná-lo contingente e sem validade analítica para além de objetos de investigação específicos – e, por outro, sua transformação em um modelo ao mesmo tempo fechado em suas premissas e abrangente em sua utilização, passível de aplicação indistinta aos mais diversos enquadramentos cronológicos e espaciais e conjuntos de evidência empírica. Com efeito, o emprego do conceito de segunda escravidão não é monolítico. Há diferentes maneiras de compreendê-lo e avaliar sua pertinência e contribuição aos estudos históricos. Além tomar a segunda escravidão como uma perspectiva – uma espécie de modelo dinâmico e aberto –, ela também pode ser entendida como uma estrutura histórica nos quadros do capitalismo industrial ou como uma categoria que descreve a instituição da escravidão on the ground , isto é, sua forma social e econômica nas áreas de expansão das fronteiras do algodão, do café e do açúcar nos Estados Unidos, no Brasil e em Cuba no século XIX. Compreender as diferentes leituras e maneiras de empregar o conceito é especialmente relevante quando avaliamos a diversidade regional do Império do Brasil, seus espaços econômicos e as feições específicas que a escravidão assumia em cada zona geográfica e setor produtivo. O processo mais visível no desenvolvimento da segunda escravidão é a ampliação da escala de produção escravista de commoditiesessenciais para as zonas industrializadas e urbanizadas do Atlântico Norte. Na década de 1830, Estados Unidos, Cuba e Brasil eram os líderes no mercado mundial de algodão, açúcar e café. Entre os quinquênios 1821-25 e 1856-60, o volume de algodão produzido nos Estados Unidos aumentou oito vezes, o de açúcar exportado por Cuba sete e o de café exportado pelo Brasil doze. Em fins da década de 1850 o algodão norte-americano dominava 77% do mercado consumidor britânico, 90% do francês, 60% do germânico (Zollverein) e 92% do russo. Cuba produzia 25% do açúcar mundial e o café brasileiro compunha mais de 50% da oferta no mercado

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