A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

142 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica brasileiro no século XIX. E não apenas a partir da obra sobejamente conhecida de Celso Furtado, mas também a de Cláudio Contador & Cláudio Haddad (1975), Nathaniel Leff (1991), Mircea Buescu (1979), John Coastworth (1998), Stephen Haber (1997) etc. Esses autores apontaram para o desempenho bastante limitado da renda per capita no Brasil do século XIX, em comparação a outros países da América Latina e principalmente aos EUA. Nesse debate, as razões do atraso brasileiro decorrem da geografia desfavorável, da herança colonial e instituições pouco favoráveis ao desenvolvimento, da elevada desigualdade de riqueza e poder, da instabilidade pós-independência etc. Todos esses elementos precisam ser considerados na proposta. A existência de mais indústrias, bancos e urbanização nas regiões de maior presença de escravos não constitui evidência suficiente para rechaçar a tese de que a escravidão atrasou a modernização da economia brasileira. Estarem numa mesma região não contraria essa tese. Há a necessidade de estabelecer uma relação de causalidade entre as variáveis. Regiões mais ricas e de maior renda concentravam a posse de cativos, mas não significa que a escravidão explique o crescimento econômico da área. As fazendas possuidoras de mais escravos conseguiam tomar mais crédito. Porém, não por serem mais promissoras ou rentáveis do que as demais, mas por deterem maiores garantias de pagamento. Os ativos líquidos eram os escravos e as safras futuras, que poderiam mais facilmente ser mobilizados para o financiamento. Nesse sentido, a desigualdade da oferta de crédito entre os produtores de diferentes portes foi um mecanismo importante de diferenciação social. A economia da borracha vivenciou uma extraordinária expansão desde o meado do século XIX. O crescimento realizou-se baseado em mão de obra escrava, mas também cada vez mais por meio de trabalhadores livres, vinculados ao barracão. Nesse caso, não há turmas de escravos, como no açúcar. Por outro lado, a economia de mercado interno foi pouco destacada na discussão dos autores, e sem dúvida parcela expressiva dos escravos alocava-se nessas ocupações. Não apenas o fumo e o algodão direcionavam-se para o mercado doméstico, mas também um leque amplo de produtos agropecuários e até mesmo manufaturas. A proposta busca verificar se o desenvolvimento industrial brasileiro foi explicado pela expansão das exportações e do emprego da mão de obra escrava. De outro lado, o crescimento do mercado interno e as questões das relações de trabalho escravista e livre constituem peças- -chave para o entendimento da industrialização.

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