A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

14 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica para esfera política e ideológica e as causas morais e políticas da emancipação são enfatizadas. A Nova História do Capitalismo também trata a escravidão como capitalista, mas, diferentemente da Nova História Econômica, reconhece o seu caráter específico. Os escravos são vistos como propriedade que era vendida e comprada. Eles não faziam escolhas racionais no mercado. As estruturas de força e coerção que instituíam a escravidão e organizavam o processo de trabalho. Contudo, essa abordagem simplesmente junta capitalismo e escravidão como entidades separadas. Tipicamente, capitalismo e escravidão são formulados como um par interligado. A segunda escravidão é entendida, eventualmente, como escravidão do capitalismo ou mesmo como capitalismo da escravidão. Trata-se do que Maria Sylvia de Carvalho Franco descreveu como “uma dualidade integrada” e não uma “unidade contraditória” (Franco, 1976, p. 11). Cada uma dessas abordagens, a seu modo, trata a escravidão e a relação senhor-escravo como um conceito fechado em si e internamente integrado que está ligado externamente a – ou é influenciado por – outras relações autonomizadas do mesmo tipo (Sayer, 1987). Há aqui uma clara distinção entre o que é “interno” e “externo” em um sistema escravista. Diferentemente de tais formulações, a abordagem da segunda escravidão trata a escravidão e a relação senhor-escravo como relações históricas concretas e substantivas. Vistas dessa perspectiva, as relações escravistas históricas reais são constituídas não apenas pela forma das relações senhor-escravo, mas também, por um lado, por processos de produção material específicos (açúcar, café, algodão), pela ecologia e pela geografia, e, por outro, por sua posição relativa na divisão internacional do trabalho e no mercado mundial (que se constitui de uma configuração histórica particular da inter-relação econômica entre produção, distribuição, trocas e consumo). Consequentemente, cada formação escravista forma um complexo histórico-geográfico específico (Godinho, 1961) no interior da divisão mundial do trabalho que se transforma historicamente. Em cada um desses casos a relação senhor-escravo adquire características específicas que a distingue de outras formações escravistas desse tipo. (Aqui o foco na economia e na produção de mercadorias, apesar de importante por si só, visa também fornecer um fio condutor para o estudo dos aspectos políticos, sociais e culturais da segunda escravidão.) Deste ponto de vista, escravidão e trabalho assalariado são partes constitutivas de um todo econômico-mundial abrangente. Não são considerados como duas entidades isoladas, mas como polos de uma mesma relação. São inter-relacionados e mutuamente formativos; diferenciáveis,

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