A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

134 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica A lei provincial mineira de nº. 1.762, de 04 de abril de 1871, estabelecia, portanto, segundo os mesmos autores, um plano viário para a província, para a construção e integração de estradas de rodagem, concessão de privilégios para a montagem de ferrovias e promoção da navegação fluvial. O programa apresentava duas possibilidades entre caminhos e atalhos para transpor Minas Gerais e chegar ao Rio de Janeiro, atingindo seu litoral norte. Por um lado, projetava-se uma estrada de ferro que unisse São Paulo do Muriaé a Campos dos Goytacazes, transpondo São Fidelis. De outro lado, estudava-se a viabilidade de um ramal que ligasse Mariana a Itabapoana, nos limites entre as três províncias, ultrapassando as localidades de Ponte Nova e Tombos do Carangola, integrando a tríplice fronteira. A configuração desse tabuleiro regional há tempos fazia parte do horizonte de lideranças locais como o Visconde de Araruama, José Carneiro da Silva, anteriormente citado. Segundo Ana Lúcia Nunes (2014, p. 537), uma representação, enviada pela Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes à Assembleia Provincial Fluminense, em 1835, propunha a construção de uma ponte sobre o Rio Paraíba, uma estrada de Campos a São João del Rei, em Minas Gerais, e canais navegáveis na região, indicando os estreitos interesses entre fluminenses e mineiros. O próprio José Carneiro seria beneficiado com a arrematação do contrato da obra de construção do canal Campos – Macaé, formalizada em 1844, iniciada a execução em 1845 e concluída apenas na década de 1870. Pouco tempo depois, a EFCM entraria em operação, ligando Campos dos Goytacazes ao Porto de Imbetiba, em Macaé, tornando assim o canal uma obra menor, além de acentuar as críticas e controvérsias sobre sua construção e sua utilidade. Os ensaios da província mineira visavam atingir outros portos fluminenses, como opção ao Porto do Rio de Janeiro. Ficava nítida, portanto, a intenção dos mineiros de privilegiar o intercâmbio entre espaços meridionais da província mediterrânea para compartilhar interesses comuns com baixadas e altiplanos das províncias oceânicas vizinhas. A chave de interpretação dos argumentos dos autores é a natureza mercantil da complexa articulação entre regiões e províncias, com o fito de tratar do abastecimento interno. Para Godoy e Barbosa, as obras públicas nas províncias surgem como elemento integrador dos interesses regionais, constituindo um fundamento sólido para a expansão de uma economia de mercado. Sem dúvida, os projetos do século XIX revelavam a unidade regional historicamente delimitada. A efetividade no escoamento da produção mineira já estava demarcada pela província fluminense ao

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