A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

125 Escravidão e capitalismo: dimensões de uma economia regional no século XIX livres, 9.758 ingênuos e 28.913 escravos, para o ano de 1881 (Alvarenga, 1884). O quadro 1 mostra que a concentração de população escrava era maior nas mais antigas e principais freguesias instituídas: São Salvador, São Sebastião, São Gonçalo e Santo Antônio de Guarulhos. Na década de 1860, as freguesias de São Fidelis do Sigmaringa, São José da Leonissa (atual Itaocara) e Santo Antônio de Pádua são desmembradas pela criação de novos municípios ou por mudança de jurisdição. A partir da mesma década, novas freguesias são criadas, especialmente na região cafeeira, como Nossa Senhora de Natividade do Carangola (na fronteira com Minas Gerais e Espírito Santo), Senhor Bom Jesus (na fronteira com o Espírito Santo) e Nossa Senhora da Piedade de Laje do Muriaé (na fronteira com Minas Gerais), esta última na década de 1880, motivo pelo qual a freguesia não aparece nas estatísticas que se seguem. As variações da população escrava entre 1850 (fim do tráfico) e 1881, ainda que se mostrem negativas, denotam a redução lenta e gradual da escravidão nessas três décadas (ver quadro 2): 3,45% (1850/1863); 10,57% (1863/1872); e 11,30% (1872/1881). No cômputo geral, a população cativa em Campos dos Goytacazes decai 23,41% entre 1850 e 1881. Esses dados talvez expliquem por que o movimento abolicionista teve uma repercussão intensa na cidade. A dimensão que a população alcança em 1850, de 37.747 escravos, pode ser relacionada ao expressivo deslocamento de africanos para Campos dos Goytacazes pela via do tráfico ilegal, conforme indica o quadro 3. Os desembarques ocorridos no litoral contínuo entre as duas províncias, mesmo depois da lei do fim do tráfico, evidenciam interesses conjuntos entre agentes locais, ligados ao comércio ilícito de africanos, seja na sua organização, seja para escapar da repressão. Por exemplo, os mais notórios agentes do tráfico de africanos que atuavam ali possuíam fazendas em praias capixabas e fluminenses, e negócios em Itapemirim, Campos e São João da Barra, como André Gonçalves da Graça e Joaquim Thomaz de Faria, articulados com um dos maiores traficantes com base no Rio de Janeiro, José Bernardino de Sá (Pereira, 2018). As quatro freguesias mais populosas, mencionadas anteriormente, formavam o núcleo central da economia campista. As três primeiras, situadas à margem sul do Rio Paraíba, eram o locusprivilegiado do cultivo da cana-de-açúcar, do redesenho de engenhos e da ligação com o Porto de Imbetiba, pela utilização do canal Campos – Macaé. A quarta freguesia, situada à margem norte do mesmo rio, foi o terreno próspero para a expansão do café, detonadora da construção de um complexo ferroviário que unia o extremo norte da província ao Porto de Imbetiba, em Macaé. Tratava-se de um corredor de trilhos composto pela Estrada de Ferro

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