A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

124 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica os Sertões do Leste de Minas Gerais. Essa rede fluvial, segundo o autor, não isolava as águas do Rio Itabapoana, demarcando os limites entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. Tais vias de comunicação permitiam a integração de diversas localidades, ribeirinhas ou não, favorecendo o escoamento da produção regional. Nesse aspecto, o Porto de São João da Barra viabilizara a conexão pelo Rio Paraíba do Sul até a Cidade de São Fidelis, da mesma forma que embarcações alcançaram Cachoeiras do Muriaé (atual Cardoso Moreira), através do Rio Muriaé, afluente do Rio Paraíba do Sul, permitindo o escoamento de produtos do extremo norte fluminense e da Zona da Mata mineira, em duas vertentes: por Cantagalo e pelos sertões do Muriaé, respectivamente. Mercadante percebeu muito bem a unidade regional complexada região da Zona da Mata mineira, ao estender suas conexões com o norte do Rio de Janeiro e o sul do Espírito Santo, desde a sua ocupação. Em lombo de mulas e embarcações fluviais, circulava na região uma variada produção composta por algodão, sal, açúcar, fumo, toucinho, milho, munições, ferramentas, algodão, tecidos, bugigangas e mercadorias diversas entre o Rio, Campos, a Zona da Mata de Minas Gerais e o sul capixaba. Todo esse circuito, segundo Mercadante, garantia o desenvolvimento demográfico e urbano dos Sertões do Leste , acentuado mais ainda pela expansão cafeeira no século XIX. Campos dos Goytacazes, com expressiva população escrava, capitalizava, há muito, a montagem desse mosaico regional. Não por outros motivos, em 1850, a Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes encaminhara ao legislativo do Império um projeto de criação da Província de Campos dos Goytacazes, a partir do desmembramento das comarcas de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro; de Rio Pomba, em Minas Gerais; e de Itapemirim, no Espírito Santo. Da parte de Minas Gerais, não temos informações como tal projeto foi recebido pelas lideranças da região, mas, no caso do Espírito Santo, a proposta foi aprovada e endossada pelos negociantes e fazendeiros locais. Segundo Rogério Faleiros (2010), a relação dos interesses comerciais e mercantis entre as duas regiões limítrofes era tão próxima, que, no final do século XIX, a Província do Espírito Santo tinha preocupações, conforme expressa o autor, em reterritorializar o sul capixaba, ou seja, trazê-lo à centralidade do governo provincial, com o intuito de reverter o fluxo econômico que seguia pelos caminhos da baixada campista. A densidade populacional em Campos dos Goytacazes sobressaía. Os números colocavam a cidade entre as cinco mais populosas do Império. O Almanak de Campos para 1885 apresentou um contingente populacional estimado em 99.905 habitantes, distribuídos entre 61.924

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