A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

123 Escravidão e capitalismo: dimensões de uma economia regional no século XIX capitanias, especialmente posseiros, entregues ao desenvolvimento de plantações, pastagens e currais. A questão central na análise de Soares parte do princípio de que há uma diversidade da economia local, apesar da ressonância historiográfica sobre um determinado produto mais expressivo, o açúcar. Sua análise sobre as principais fortunas em Campos dos Goytacazes nos primeiros anos do século XVIII mostra que cabeças de gado bovino e cavalar despontam como o item principal dos inventários, consagrando 53% do monte mor das oito principais fortunas da Capitania da Paraíba do Sul. Logo depois, a cana-de-açúcar e os engenhos passariam a ter maior relevância econômica, aplacada a instabilidade política em Campos dos Goytacazes, prolongada pelas lutas entre donatários e elites locais. Tal fato modificou a paisagem agrária no final do século XVIII, em face de uma conjuntura econômica favorável, dada pela expansão dos engenhos de açúcar, a oferta elástica de africanos e a disponibilidade de crédito na praça mercantil do Rio de Janeiro. Tudo isso, associado ao declínio da produção açucareira no recôncavo da Guanabara, segundo Soares, possibilitou a expansão demográfica e da produção açucareira, mas sem o caráter monocultor. Trata-se de uma análise que destaca a dimensão econômica regional de Campos dos Goytacazes, pelo menos até a constituição da Província do Rio de Janeiro, em 1835. O Visconde de Araruama, José Carneiro da Silva (2010, p. 7; p. 60), mostrara em sua obra, cuja primeira edição saiu em 1819, que o comércio regular com Minas Gerais havia ganhado maior relevância desde o início do século, por injunção da Coroa Portuguesa, com a abertura, em 1801, do primeiro caminho construído por 80 homens, com largura de 40 palmos e extensão de 32 léguas, entre Rio Pomba e Campos dos Goytacazes. Para o Visconde, o comércio com Minas Gerais “traria muito mais comodidade”, do que se fazia até então, pelo Rio de Janeiro. De Minas Gerais, vinham gado bovino e muar, queijos, toucinho, carne de porco. Do Espírito Santo, panos de algodão e farinha de mandioca. Fronteiras conectadas Paulo Mercadante (1978) assinalara a clara conexão regional, especialmente, pelo aproveitamento da rede fluvial que adentrava os três núcleos distintos. O Rio Paraíba do Sul, quando não por ele mesmo, atingia por seus afluentes e subafluentes (Muriaé, Carangola e Pomba)

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz