A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

106 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica do, a análise da professora Alice Piffer Canabrava, também em texto da década de 1960, detalhou um pouco mais a relação contraditória entre as medidas liberalizantes ou livre-cambistas (como a tarifa Alves Branco) e a modernização que, segundo análise até hoje corrente, teria sido obstaculizada pela concorrência dos produtos e capitais ingleses. Canabrava ressalta que as diversas tarifas alfandegárias instituídas a partir de 1844 e, ainda, as constantes desvalorizações cambiais impostas aos mil-réis acabaram por garantir algum grau de proteção aos nascentes empreendimentos nacionais. 7 Trazendo outras perspectivas teóricas, Geraldo Beauclair de Oliveira estudou o Período Joanino até meados do século XIX, segundo a lógica da pré-indústria . Nessa análise, mostrou que uma série de medidas tomada pela Coroa, transplantada para a América, transformou o espaço colonial, particularmente o Rio de Janeiro. Diferenciando a protoindústria , que marcaria as modernas economias europeias antes da Revolução Industrial, da pré-indústria , que teria surgido a partir de 1808, no Brasil, o autor chama atenção para como a diversificação da economia no Rio de Janeiro provocou significativo desenvolvimento industrial relacionado aos interesses do Estado (fábrica de pólvora, ferro e construção naval, navegação etc.), modernização da lavoura (jardins botânicos, engenhos a vapor etc.) e melhor aproveitamento dos recursos dos produtos da terra (madeiras, fabricação de papel, extração de raízes – como a Ipecacuanha ou Poaia etc.) (Oliveira, 1992, 2001). Outro ponto importante no estudo de Beauclair é a articulação desse crescimento como complementar e relacionado à escravidão e ao trabalho escravo. Através de diversos exemplos, o autor demonstrou que importantes oficiais, artífices e operários de vários empreendimentos eram escravos, particularmente nos casos da pesca da baleia, na fabricação de ferro e, ainda, na construção naval. Nesse mesmo sentido, o estudo de Douglas Cole Libby recua a indústria do ferro e também a têxtil no Brasil ainda para o período final do declínio da mineração aurífera no século XVIII, sob o conceito da protoindústria (Libby, 1989, p. 149-160). 8 O estudo de Beauclair sugere ainda que, até meados do século XIX, a indústria brasileira passou por modernização e desenvolvimento 7 Canabrava (2005), História Econômica : estudos e pesquisas, particularmente o capítulo Manufaturas e indústrias no período de D. João VI no Brasil. Sobre as diversas tarifas alfandegárias após 1844, temos 1857 – tarifa Souza Franco, 1860 – tarifa Silva Ferraz, 1869 – tarifa Itaboraí, 1870/71, 74 – tarifa Alves Branco, 1878, 1879, 1880 – tarifa Assis Figueiredo, 1881 – tarifa Saraiva, 1887 – tarifa Belisário Souza e 1888 – tarifa João Alfredo. Para mais detalhes, cf. Sampaio (1975, p. 23-27). 8 Sobre a pesca da baleia, existe ainda o importante e pioneiro estudo de Ellis (1969).

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