A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

105 Raízes escravas da indústria no Brasil demais regiões em perspectiva comparativa, adotando as temáticas da segunda escravidão, pode nos auxiliar a perceber a diversidade e os encaminhamentos possíveis para a escravidão e a sua crise. 6 Esses outros complexos e mesmo as regiões cafeeiras também podem e devem ser estudados a partir dos desdobramentos que a entrada maciça de escravos e a sua presença provocaram em termos de desenvolvimento econômico. Para além do binômio “o café é o negro”, como salientado por Robert Conrad (1978) –, poderíamos acrescentar o açúcar, o algodão, o fumo e outros são o negro . Devemos entender que a escravidão no século XIX se relacionadiretamente à modernização capitalista em curso a nível mundial. Aqui, não se trata apenas de relacionar o desenvolvimento de máquinas, técnicas agrícolas e aperfeiçoamento dos sistemas de transportes como formas de um melhor aproveitamento da mão de obra cativa, como visto em diversos autores (de Emília Viotti a Ricardo Salles), mas de entender que a escravidão no século XIX se deu nos quadros de um crescimento capitalista industrial e que, portanto, no desenvolvimento de regiões escravistas, irá ocorrer, necessariamente, um processo de modernização capitalista, nos moldes que Wilson Cano denominou de “ complexoagroexportador” (Cano, 1998). Mais do que simplesmente superar a dicotomia campo x cidade ou lavoura x indústria, que durante algum tempo dominou parte da historiografia brasileira, é preciso entender a relação entre o crescimento do campo (via mão de obra escrava) e o impacto que isso trará para as cidades (também habitadas por um significativo número de cativos). Em outros termos, trata-se de entender as raízes escravas da industrialização no país. A despeito de o incremento da economia agroexportadora, com a chegada da Corte, ter se constituído no principal pilar da nossa economia, diversos historiadores já mencionaram que o Período Joanino foi pródigo em apoiar atividades manufatureiras e industriais, até mesmo para adequar a antiga colônia às necessidades de uma corte tropical . Em 1960, a publicação da obra A luta pela industrialização do Brasil , de Nícia Vilela Luz, destacou as primeiras iniciativas industriais surgidas pela mão de D. João VI, em seus diversos alvarás e Cartas Régias, concedendo isenções ficais, privilégios e até mesmo concessões de loterias para estimular esses empreendimentos. Se a obra não avança muito no estudo do perío6 Em relação ao aumento dos discursos e do crescimento do abolicionismo no Parlamento Brasileiro, Robert Conrad já havia sugerido, por exemplo, que a diminuição da presença escrava em regiões como o Nordeste açucareiro fez com que importantes bancadas abandonassem a defesa da escravidão em momentos cruciais da campanha abolicionista, cf. Conrad (1978).

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