A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

31 CAPÍTULO I – REFORMA SANITÁRIA E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): DA LUTA À CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE SAÚDE PARA TODOS Monique Scapinello 1 Historicamente, o Brasil é marcado por um forte discurso liberal, assim como pelo predomínio das decisões econômicas frente ao cenário político (FLEURY, 1988; 1992; 2009). A atenção à saúde dos brasileiros não se diferenciava muito deste modelo, sendo marcada pelo paradig- ma biomédico e individualista, caracterizadas por precárias organizações dos serviços de saúde desconexos às diversidades da estrutura social do país (PAIM, 1997), principalmente após a golpe militar de 1964. No que tange propriamente ao sistema público de saúde o Brasil vivia sob a du- plicidade de um sistema cindido: a medicina previdenciária de um lado e a saúde pública de outro. O primeiro setor tinha ações dirigidas à saúde individual dos traba- lhadores formais e voltava-se prioritariamente para as zonas urba- nas, estando a cargo dos institutos de pensão. Já a saúde pública, sob o comando do Ministério da Saúde (MS), era direcionada princi- palmente às zonas rurais e aos setores mais pobres da população, e tinha como alvo, majoritariamente, atividades de caráter preventivo (PAIVA; TEIXEIRA, p. 17, 2014). Diante deste cenário, organizou-se um movimento pela demo- cratização da saúde no Brasil durante a segunda metade da década de 1970, possibilitando a formulação do projeto da Reforma Sanitária Bra- sileira (RSB). Assim, a RSB foi concebida na luta contra a ditadura militar e em resistência ao modelo de privatização dos serviços de saúde e da Previdência Social, tendo como bandeira “Saúde e Democracia” e a cons- trução de um Estado democrático social, sendo germinada nos serviços de saúde e grupos sociais, nas universidades, no movimento sindical e 1 Psicóloga, especialista em Saúde Mental.

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