A capoeira joga com a dureza da vida

28 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 CAPÍTULO 1 – O PROCESSO DE REPARAÇÃO E RECONHECIMENTO DA CAPOEIRA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE Alguns símbolos culturais da diáspora africana foram criminalizados no Brasil logo após a abolição da escravatura. Capoeira e Candomblé, embora proibidos, não deixaram de ser cultuados. Hoje em dia, não são mais criminalizados, mas sim reconhecidos. A capoeira no Brasil vem resistindo desde a marginalização até a institucionalização que veio a consolidá-la enquanto patrimônio imaterial da humanidade. Por isso, considero instigante a investigação acerca da inserção e desenvolvimento da capoeira no universo metropolitano da cidade de Porto Alegre. Através do registro de depoimentos, desde antigos praticantes até os mais novos, busco analisar de que forma a capoeira foi se inserindo no cenário porto-alegrense e, ao mesmo tempo, como absorveu e/ou transformou a vida de seus diferentes atores/as. Através dessa abordagem, quero enfatizar que, com o passar do tempo, a prática da capoeira vem se revelando como uma poderosa tática de luta no processo de libertação do povo negro no Brasil desde os tempos da escravidão. Desse modo, um dos episódios que considero emblemáticos para exemplificar meu apontamento é a Guerra do Paraguai (1864-1870). Conforme apresenta o historiador Júlio José Chiavenatto em seu livro Genocídio Americano: a Guerra do Paraguai: “[...] para cada soldado branco (nas forças imperiais) havia 45 negros escravos” (CHIAVENATTO, 1979, p. 116). A maioria desses escravos que lutaram por sua vida e liberdade na guerra era de exímios capoeiristas que, na volta ao Brasil, se tornaram livres devido à sua triunfante atuação na guerra. Os po-

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