A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

93 RAÍZES ESCRAVAS DA INDÚSTRIA NO BRASIL Luiz Fernando Saraiva Rita Almico Passagens de uma economia colonial para economias mercantis escravistas regionais A economia brasileira passou por grande crescimento e diversificação ao longo do século XIX. Fruto das mudanças da economia colonial ao final do século XVIII, cujo modelo de funcionamento irá até as primeiras décadas do século XX, essa diversificação, assistida em várias regiões, ocorreu em locais onde existiam complexos agroexportadores predominantemente escravistas de produtos variados. Isso envolvia todos os elos da economia agroexportadora regional (produção, comércio, financiamento, urbanização e desdobramentos). Tais transformações estão diretamente ligadas ao conjunto de mudanças que a economia mundial atravessou neste período – notadamente a expansão de um mercado mundial de contornos cada vez mais capitalistas. Internamente, nossa economia se defrontou com um contexto muito próprio e peculiar, com encaminhamentos que possuíam grandes significados para os períodos subsequentes. De maneira ainda não completamente consensual entre os historiadores econômicos, tais mudanças irão, contraditoriamente, reforçar as opções escravistas e mercantis dos grupos que irão liderar, do ponto de vista econômico e político, o processo de Independência e a construção do Estado brasileiro (Mattos, 1994; Costa, 1996; Da Costa, 1998). O regime escravista irá assistir a um incremento significativo no volume de importação de escravos e, não obstante a contraditória política inglesa de combate ao tráfico, o resultado será o aumento dramático na entrada de cativos, o que ensejou que, recentemente, alguns historiadores enxergassem esse período como uma segunda escravidão (Muaze; Salles, 2015). Entendemos que o conceito de segunda escravidão visa superar, do ponto de vista teórico e metodológico, um amplo debate que opõe algu-

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