A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

53 UNIDADES DE ANÁLISE, JOGOS DE ESCALAS E A HISTORIOGRAFIA DA ESCRAVIDÃO NO CAPITALISMO Leonardo Marques It is not analytically most useful to define either ‘proletarian’ or ‘slave’ in isolation, since these two vast categories of toiler were actually linked intimately by the world economy that had, as it were, given birth to them both, in their modern form. Sidney Mintz (1977, p. 97) Em fins da década de 1990, Joel Mokyr expressava uma certeza amplamente compartilhada por muitos historiadores quando argumentou que, “na ausência da escravidão nas Índias Ocidentais, a Grã- -Bretanha teria que beber chá amargo, mas teria tido uma Revolução Industrial, ainda que, talvez, em um ritmo marginalmente mais lento” (Mokyr, 1999, p. 75). Após décadas de debates historiográficos em torno das relações entre o desenvolvimento do capitalismo na Europa e a escravidão nas Américas, um certo consenso parecia ter sido alcançado. Em termos puramente econômicos, os lucros do tráfico de escravos e das colônias escravistas nas Américas haviam sido proporcionalmente muito baixos para ter qualquer peso explicativo para o desenvolvimento da Europa. Nas palavras de um famoso e influente artigo de Patrick O’Brien, que analisava as relações coloniais da Europa como um todo, “para o crescimento do centro, a contribuição da periferia foi periférica” (O’Brien, 1982, p. 18). O alvo principal de O’Brien era Immanuel Wallerstein, cuja obra recuperava e ampliava, sobre novas bases, a agenda de pesquisa inaugurada por Eric Williams, em 1944, com a publicação deCapitalismo e escravidão . Em seu famoso argumento, Williams defendeu que a escravidão inicialmente gerou os lucros necessários à industrialização da Grã-Bretanha. Com o desenvolvimento do capitalismo industrial, no entanto, a escravidão nas colônias britânicas se tornou economicamente irrelevante para a metrópole, preparando o caminho para a sua extinção (Wallerstein, 1974; Williams, 2012).

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