A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

23 Introdução cravidão para as pesquisas que enfocam, mais diretamente, as vidas dos sujeitos históricos, sejam senhores, escravos, homens e mulheres livres e pobres etc. Enquanto Mariana Muaze e Waldomiro Lourenço da Silva Júnior apresentam discussões teórico-metodológicas sobre a relação entre segunda escravidão e a Micro-História, e o lugar da estrutura e da experiência na análise histórica; Thiago Campos Pessoa toma o caso dos irmãos Breves, importantes traficantes e senhores de escravos e terras no Vale do Paraíba Fluminense para pensar a segunda escravidão no Brasil Império. O debate é pontuado por Mônica Ribeiro de Oliveira no texto Para uma nova dimensão dos estudos sobre a história da escravidão: diálogos entre a segunda escravidão e a Micro-História. Certamente, o que o leitor irá encontrar a seguir não são conformidades e unanimidades. Pelo contrário, desde que o seminário e o livro foram rascunhados, seus organizadores almejaram provocar o embate, a polêmica e o dissenso em torno dos desafios e potencialidades do conceito de segunda escravidão e suas relações com o capitalismo. O que se almeja é a retomada, em novas bases, como a própria noção de segunda escravidão indica, das discussões acaloradas que já foram de grande importância para os estudos da escravidão e que, nos últimos anos, ficaram encobertas por um certo consenso superficial sobre a importância da discussão de questões teóricas e de natureza mais ampla para a construção do conhecimento histórico. Nesta obra, mais do que um caminho único a ser seguido, apostamos na potência do debate historiográfico e dos diferentes pontos de vista para os estudos da escravidão. Contudo, pelo menos entre os autores vinculados ao grupo de estudos interinstitucionalO Império do Brasil e a Segunda Escravidão , vigora a ideia de que capitalismo e escravidão no longo século XIX não foram, desde sempre, sistemas incompatíveis, sendo aquele mais moderno e este mais atrasado. Ao contrário, as relações entre a segunda escravidão e o capitalismo integraram uma totalidade complexa e contraditória que não pode deixar de ser levada em consideração no entendimento das relações entre senhores, escravos e demais grupos sociais. Apesar das divergências, e mesmo que as metodologias de análise variem, acredita-se que escravidão não mais pode ser vista como uma entidade abstrata, sempre igual a si mesma. Portanto, este livro é menos uma bússola dotada de um norte que sempre aponta caminhos certeiros e únicos para se trabalhar com os conceitos de segunda escravidão, capitalismo e sociedades escravistas; e mais um mapa composto de vários caminhos e trajetos passíveis de serem percorridos, onde o leitor pode se perder e se achar, à luz de um debate historiográfico qualificado e atualizado sobre o tema.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz