A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

193 A inserção dos ingleses no império português: o caso da família Gulston no Rio de Janeiro, c.1710-c.1720 posta pelos reinóis e homens de negócios Manoel Casado Viana e João de Oliveira, e os negociantes ingleses João Cheren, na realidade John Sherman, RafaelGulston (Ralph Gulston) e Thomas Bound, para efetuar uma carregação (resgate) de 300 escravos da Costa da Mina, África, através do frete do navio Nossa Senhora da Boa Hora, capitão Antonio da Costa. 43 Analisando os nomes dos negociantes reinóis na sociedade, destacamos o comerciante e traficante de escravos Manoel Casado Viana, proprietário da chácara do Casado, cujo desmembramento gerou o terreno do Paço (Mathias, 2009, p. 30; 39; 79-81). No tocante aos ingleses, além do Ralph Gulston, destacamos também o inglês John Sherman, já que ainda não temos maiores informações sobre Thomas Bound, personagem importantíssimo, pois, como administrador do resgate, receberia uma comissão de 10% de todos os escravos “que chegarem vivos a esse porto (RJ)” (Sampaio, 2001, p. 92). 44 Segundo Donovan, John Sherman era um inglês católico que chegou ao Brasil, em 1696, e começou a comercializar mercadorias secas (fios e tecidos) e escravos para Minas. Atuou, também, como comissário de firmas portuguesas em Lisboa, Porto e Londres (Donovan, 1990, p. 267). No Rio de Janeiro de inícios do Setecentos, John Sherman casou- -se com Barbara de Sá de Souto Maior, descendente de uma das mais poderosas famílias da “nobreza da terra carioca” (Donovan, 1990, p. 267), e esse casamento foi muito importante para a sua permanência no Rio de Janeiro, face à pressão da expulsão dos estrangeiros a partir de 1714. Segundo Donovan, sucessivas petições foram enviadas do Senado da Câmara do Rio de Janeiro para a Coroa, para excluir Sherman da lista dos estrangeiros que foram obrigados a se retirar do Rio de Janeiro, como foi o caso de Ralph Gulston (Donovan, 1990, p. 268). Retornando à sociedade comercial, infelizmente não achamos ainda a documentação que comprove o retorno da carregação dos africanos da Costa da Mina (Soares, 2000, p. 86). No entanto, para Antonio Carlos Jucá de Sampaio, a organização da sociedade na Cidade do Rio de Janeiro se constituiu num exemplo de autonomia da elite mercantil, pois foi essa que possibilitou um ajuste com a Royal African Company (Eltis, 1994, p. 237-249; Morgan, 2007, p. 57-60), que permitiria que suas feitorias na costa africana abastecessem tal carregação, “em troca passa letras para a 43 BRASIL. Arquivo Nacional (Rio de Janeiro). Cartório do Segundo Ofício de Notas , Fundo 5E, Livro 17, f. 93. (AN, CSON, 5E, L.17). 44 BRASIL. Arquivo Nacional (Rio de Janeiro). Cartório do Segundo Ofício de Notas , 5E, L.17, f. 93.

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