A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

178 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica citando um certo Sr. Cock, único mercador inglês residente na cidade de Salvador, destacou que ele tinha uma patente para ser o nosso cônsul Inglês, mas não se preocupou em tomar sobre si qualquer caráter público, porque raramente os navios ingleses vem cá, e nenhum aqui de ter parado em onze ou doze anos antes deste tempo. (Boxer, 1969b, p. 462). Com a descoberta de ouro do Brasil no final do século XVII e início do XVIII (Boxer, 1969a, p. 53-105), e a importância desta mercadoria para a revitalização da economia e do Império portugueses, a presença inglesa nas principais praças do Império foi vista com desconfiança cada vez maior pelas autoridades, ainda mais com o contrabando correndo solto. Segundo Boxer: “essa concessão forçada teve muito ressentimento por sucessivos monarcas portugueses, e seus representantes no Brasil estavam contra qualquer tentativa de expandi-lo ou mesmo para fazer pleno uso do mesmo” (Boxer, 1969b, p. 462). Nesse contexto, mais a descoberta de ouro nas Minas Gerais e o crescimento do Rio de Janeiro como principal porto importador e exportador do Centro-Sul brasileiro, evidenciado pelas invasões corsárias de Duclerc (1710) e Trouin (1711), 4 aportaram na cidade carioca os irmãos e negociantes ingleses Joseph and Ralph Gulston. É deles que trataremos a seguir. A trajetória dos irmãos Gulston no Rio de Janeiro, c. 1710-c.1720 Em 1828, no Illustrations of the Literary History of the eighteenth century consisting of authentic memoirs and original letters of eminent persons (Nichols, 1828, p. 36), 5 publicado pelo famoso editor John Nichols, outrora editor por mais de 40 anos do influente periódico Gentleman’s Magazine, apareceu a seguinte informação: 4 Duclerc chegou ao Rio de Janeiro em 11/08/1710, se rendeu em 19/09/1710 e foi assassinado em 18/03/1711. A respeito dessa tentativa de 1710 e da invasão de 1711, essa última chefiada por Du Guay Trouin, cf. (Boxer, 1969a, cap. IV; Cavalcanti, 2004, p. 44-48). 5 O livro Illustrations of the Literary History of the eighteenth century consisting of authentic memoirs and original letters of eminent persons foi publicado por John Nichols a partir de 1817 e, após sua morte, por seu filho John Bowyer Nichols (J. B. Nichols). John Nichols, além de editor de prestígio junto à boa sociedade londrina, foi membro da Sociedade de Antiquários e um trusteede várias instituições de Londres. A partir deste utilizaremos a sigla ILH.

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