A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

149 Segunda escravidão, espaços econômicos e diversificação regional no Brasil imperial res cubanos e brasileiros não tardaram a aproveitar. Em Cuba, o açúcar deslanchou no fim do século XVIII, mas foi acompanhado por um desempenho igualmente impressionante do café. A pecuária, o cultivo de alimentos e os serviços de transporte e infraestrutura urbana também se desenvolveram incentivados pelo crescimento do setor exportador. A escravidão negra esteve na base desse crescimento diversificado. Em fins da década de 1820, os escravos cubanos estavam distribuídos em proporções praticamente iguais por quatro setores da economia: açúcar; café; serviços urbanos e manufaturas; criação de animais e cultivos diversos, especialmente alimentos e tabaco (Bergad, 2007, p. 142). O tráfico negreiro se intensificou. Entre 1791 e 1830, quase 350 mil africanos escravizados chegaram à ilha, quantidade mais de dez vezes superior à registrada nos cem anos precedentes. As décadas de 1810 e 1820 foram particularmente brutais, com uma média de aproximadamente 12,6 mil escravos desembarcados por ano, um salto em comparação aos 4,8 mil do intervalo 1791-1810. 3 No Brasil também se observam processos concomitantes de diversificação e expansão da produção escravista. O tradicional setor açucareiro da Bahia e de Pernambuco foi revitalizado e novas zonas produtoras foram abertas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Maranhão e províncias do Nordeste se tornaram importantes produtoras de algodão e o Brasil passou a fornecer quantidades expressivas do artigo para o mercado britânico. Os couros tiveram participação significativa na pauta de exportações. O café demorou um pouco mais a arrancar, mas seu cultivo já se mostrava promissor após 1808. Na década de 1820 a cafeicultura escravista do Vale do Paraíba deslanchou. O crescimento geral das exportações brasileiras dinamizou o mercado de abastecimento com efeitos importantes na pecuária e na produção de alimentos para o mercado interno (Alden, 2004; Luna; Klein, 2010; Marquese; Salles, 2016). Uma região periférica e de fronteira como o Rio Grande do Sul, onde a escravidão negra tivera pequena importância econômica em suas primeiras décadas de ocupação, se tornou escravista com uma economia de abastecimento (charque e trigo) e exportação (couros) vinculada aos circuitos mercantis e mercados consumidores do Rio de Janeiro e do Nordeste. O tráfico transatlântico foi crucial, mas nas zonas fronteiriças de pecuária os crioulos eram mais numerosos do que os africanos (Aladrén, 2012). Minas Gerais havia se voltado à produção de mantimentos e insumos após a crise da mineração e encontrou novos mercados com a 3 Aqui e doravante os dados sobre o tráfico transatlântico foram extraídos do banco de dados Voyages: The Trans-Atlantic Slave Trade Database. https://www.slavevoyages.org

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